- Black rainbows é o quarto álbum da britânica Corinne Bailey Rae, produzido por ela e por seu marido Steve Brown. A crítica vem destacando que o álbum traz uma sonoridade diferente dos discos anteriores dela – e é verdade. A Pitchfork destacou que o disco tem um certo lado de volta ao passado: Corinne, aos 15 anos, fazia parte de uma banda de rock formada por mulheres, Helen, inspirada em grupos como L7 e Veruca Salt. Esse grupo quase chegou a gravar pela Roadrunner Records, mas não deu certo.
- Tanto o disco quanto o single New York Transit Queen foram inspirados por uma foto feita em 1954, de Audrey Smaltz, adolescente que havia vencido o concurso do título da faixa, posando com um sorriso na traseira de um caminhão de bombeiros. A foto fazia parte de uma exposição sobre história negra, feita pelo artista Theaster Gates no Stony Island Arts Bank, em Chicago. Essa exposição “convocou pensamentos sobre escravidão, espiritualidade, beleza, sobrevivência, esperança e liberdade”, dia Corinne.
Dá para reconhecer a Corinne Bailey Rae dos anos 2000 em Black rainbows, sim – apesar de estar claro que tudo o que ela quer é que não reconheçam. Ela está na sinuosa Red horse, no protesto anti-padronização da beleza de He will follow you with his eyes e reside um pouco até na beleza de piano, voz e efeitos de gravação Peach velvet sky. Ainda assim, o esquema é outro: não há sucessos feitos para tocar no rádio, os arranjos escondem surpresas, tudo é mais “difícil” e (vá lá) psicodélico. He will follow é uma bossinha nova que até lembra a época de Like a star e outros hits – mas Corinne pôs vários efeitos de gravação na faixa e acentuou o lado jazzístico dos seus vocais.
Black rainbows significa, tudo considerado, que daqui a dez anos vai ter gente falando que adorava a “fase psicodélica” da cantora do hit Put your records on. Esse mergulho nas novas possibilidades é dado pelas guitarras altas de A spell, a prayer (em tom quase emo) e New York transit queen (unindo punk e som da Motown), e pelos oito minutos de sintetizadores sujos e harmonias vocais de Put it down. Também surge no tom utópico e afrofuturista de Earthlings (quase um “soul progressivo” à moda dos anos 2020) e Before the throne of the invisible God – esta, simultamente um afrobeat e um soul-jazz das matas.
Os “arco-íris negros” do álbum residem em letras e músicas, e na opção de adotar um som mais afirmativo e menos radiofônico. Outra música marcada pelo alto volume das guitarras e por distorções na cara do ouvinte, Erasure, narra o destino de várias pessoas negras, do esquecimento à morte. “Eles tiraram todas as crianças negras de cena/então quando eles imaginassem aquela cena/eles não seriam vistos… eles tentaram eviscerar você /esconder-se atrás da cortina/fazer você esquecer seu nome”, um retrato real e cru como o de outro artista recentemente resenhado aqui no Pop Fantasma, Mateus Fazeno Rock, na música Pose de malandro/Me querem morto.
Gravadora: Thirty Tigers
Nota: 8
Foto: Reprodução da capa do álbum
Crédito: Link de origem



Comentários estão fechados.