Nações Unidas disponibilizam 114M de dólares a Cabo Verde até 2026

O Quadro de Cooperação das Nações Unidas com Cabo Verde no horizonte 2023-2026 prevê um aumento orçamental de cerca de 19 milhões de dólares, face ao anterior. O grande foco será a erradicação da pobreza extrema. Em entrevista, a nova Coordenadora Residente do Sistema das Nações Unidas, Patricia Portela de Souza, fala-nos dos desafios e projetos do cargo que assumiu há cerca de 6 meses.
(Fotos de Pedro Moita/Forbes África Lusófona)

Como é que entrou para as Nações Unidas?
Eu nasci no Brasil, numa família com profunda consciência social. Uma família de debates constantes fomentados pelo meu pai, professor de filosofia e escritor. Isso foi fundamental na formação da pessoa em que me tornei. Talvez por isso, tenha escolhido o jornalismo como área de formação. Trabalhei algum tempo em jornais e foi precisamente como jornalista que me aproximei das Nações Unidas. Fiz uma série de reportagens sobre trabalho infantil nas  plantações de sisal. Toda a violência associada àquele trabalho. Foi através dessas denúncias que eu me aproximei da UNICEF enquanto minha fonte de informação.
Até que um dia abriu uma vaga no escritório de Salvador da Bahia, eu concorri e comecei a trabalhar como oficial de comunicação da UNICEF. Estive nesta agência das NU 25 anos. Foi uma enorme escola para mim que me levou a muitos cenários, experiências e realidades.

Que aprendizagens a UNICEF lhe deu?
A causa da infância é uma causa muito bonita, mas também muito dolorosa. Um dos momentos mais difíceis para mim na UNICEF foi na pandemia, quando a violência contra as crianças explodiu, nas suas casas, nas suas famílias houve um aumento enorme. Outra coisa foi o suicídio infantil que também cresceu exponencialmente. Ver a vulnerabilidade da infância e falta de proteção da sociedade à sua volta é muito triste.   Quando essa base de proteção falha vemos o impacto direto que tem nesse indivíduo que está em formação e ao qual temos obrigação de garantir um desenvolvimento pleno.

Fale-nos dos países por onde já passou.
Eu tive a sorte de trabalhar em muitos países. Comecei em 1997 na Bahia, depois fui para Moçambique em 2004, a seguir Bangladesh, no sul da Ásia. Estive em Nova Iorque, uma experiência mais global na sede, uma experiência mais macro. Mas prefiro o terreno, porque no terreno fazemos a diferença, há mais possibilidades de ter impacto. Nestas missões e viagens o que mais me marcou é que a criança é igual em todos os lugares do mundo, no fundo só quer ser feliz, ter oportunidades e estar bem. Como todos os seres humanos. O mais bonito da minha experiência por vários países é que eu consigo ver a universalidade do ser humano. Em contextos diferentes temos as mesmas necessidades e objetivos.
No caso de África e daí estar muito feliz em voltar é este sentimento que se vive em África de comunidade. Essa rede de proteção social. Em Moçambique eu vivi a época do VIH e foi muito difícil. Eu trabalhava com a rede de pessoas infectadas. E neste caso, se não fosse a rede de proteção social ia ser tudo ainda pior. Haviam muitos órfãos. Quem cuidava das crianças era essa rede. Mesmo aqui em Cabo Verde o apoio que a diáspora dá ao país é impressionante!
Outra coisa pela qual sou apaixonada por África é a ancestralidade, a importância de ouvir os mais velhos, a passagem da história oral entre gerações. África mantém muito isso.

Leia o artigo na íntegra na edição do NOVO que está, este sábado, dia 06 de janeiro, nas bancas

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