Irina contraria tendência na Guiné-Bissau onde a mulher continua afastada da ciência


Irina explicou à Lusa que, desde que regressou dos estudos feitos no Brasil, em 2016, produz detergente líquido através de misturas de alguns produtos químicos que importa do Senegal e casca de laranja e lima da Guiné-Bissau.


Não aceita o rótulo de cientista, mas também ressalva que a sua formação académica não tem nada a ver com o que atualmente faz para abastecer a sua loja no Mercado Central de Bissau, oferecer aos familiares e usar na sua higiene e limpeza da sua própria casa.


“Faço o meu detergente líquido à base de misturas com algumas coisas que nós aqui pensamos que é lixo”, disse, sem entrar em mais detalhes sobre a sua produção.


Irina tem uma licenciatura em Assistência Social, mestrado em Antropologia Social e especialização em Serviços Sociais e Políticas Públicas.


Na Guiné-Bissau é raro encontrar uma mulher no mundo da ciência e tecnologia, aliás, só na última quinta-feira, dia 08, é que o Governo nomeou o novo diretor-geral da Ciência e Investigação Científica, ligado ao Ministério da Educação e Ensino Superior.


Contactado pela Lusa para saber se existe alguma estatística que indique o número de mulheres na área da ciência e inovação tecnológica, este Ministério remeteu para o novo diretor-geral qualquer resposta sobre o assunto.


Jorge Nonato Otinta, que só assume funções na próxima semana, disse que só agora vai delinear e propor uma estratégia nacional para incentivar a investigação científica e produção tecnológica para o país.


Irina Mendes, que é professora na Universidade Amílcar Cabral, não quer esperar por estas diligências.


Ainda no Brasil e vendo-se na contingência de ter de arranjar outras fontes de rendimento para pagar os estudos, já que a mesada que recebia dos pais a partir de Bissau era curto, Irina aprendeu com uma amiga brasileira como se faz detergente líquido, contou.


“De início ela não queria ensinar-me como é que se faz, mas lá acabou por me mostrar a arte e quando regressei à Guiné comecei por fazer para mim mesma, a seguir para a minha mãe e mais tarde para as amigas e agora faço e vendo”, disse Irina Mendes.


Desde que começou a produzir, Irina nunca mais comprou sabão, sabonete, detergente para higiene pessoal e limpeza de casa, importados, mas garante que trabalha “muito” para conciliar a sua produção e manter as suas obrigações de esposa e mãe.


“Para uma mulher atingir um patamar igual ao homem na Guiné-Bissau precisa de dobro de tempo para si. Durmo todos os dias cerca de cinco horas, da 01:00 hora às 06:00 horas da manhã”, enfatizou.


Além de detergente líquido, Irina Mendes ainda produz `canhá` (um bolo feito de amendoim), óleo de palma engarrafada e bolachas à base de produtos da Guiné-Bissau, que vende na sua loja.


Não é o seu caso, mas Irina Mendes destacou que a maioria de mulheres que poderiam estar a criar produtos ou a investigar é desencorajada a não empreenderem pelos próprios esposos.


“Estamos num país onde grande maioria de homens são machistas, super machistas até. Já ouvi muitas das vezes mulheres a lamentarem que o marido não lhes deixa fazer negócio, empreender, porque não quer a independência financeira daquela mulher”, afirmou Irina Mendes.


A empresária diz que tem sofrido com alguma discriminação, sendo a mais grave feita por mulheres que desdenham do seu produto.


“As vezes, parece-me que há mulheres que não gostam daquilo que fazemos, ou querem o nosso insucesso. Muitas vezes ouvi mulheres que me dizem isto: `Olha o teu sabão não presta`. Isso acaba comigo logo”, sublinhou.


Irina Mendes faz “qualquer tipo de trabalho”, desde que seja do seu agrado, e aconselha as meninas da Guiné-Bissau a estudarem para um dia terem o seu próprio negócio, entrar para o mundo da ciência ou da tecnologia.


O Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência, implementado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2015, celebra-se domingo, 11 de fevereiro, visando reconhecer o papel fundamental exercido pelas mulheres e pelas raparigas na ciência e na tecnologia.

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