Guiné-Bissau: Sissoco quer travar Braima Camará de colar MADEM G-15 à Aliança Koumba Lanta

A crise entre os militantes do Movimento para Alternância Democrática (MADEM G-15) é mais uma questão de luta do Presidente da República (PR) Umaro Sissoco Embaló para afirmar-se como um dos líderes desse partido e ter o seu controlo nas futuras eleições, bem como evitar a sua integração na Aliança Koumba Lanta, mas também um combate à determinação do Coordenador, Braima Camará de controlar a formação política que considera ser seu e que a todo o custo querem tirar-lhe.

Essa “luta” deslizou para o interior do partido e neste momento existem dois blocos distintos e com sintomas de fracturação. Um bloco “com mão visível de Umaro Sissoco Embaló”, que tenta juntar-se ao PTG de Botche Candé e outro liderado pelo Coordenador, Braima Camará, que ainda controla a componente administrativa do partido, mais próximo da Aliança Koumba Lanta.

O MADEM G-15 permanece segunda formação política mais votada no país, existe há cerca de seis anos, mas ao longo deste período Umaro Sissoco Embaló sempre procurou, com algum sucesso, ter o controlo do seu funcionamento através da colocação de um número significativo de dirigentes ao seu lado, colocando sob pressão Braima Camará que acusa de chantagens para extorquir dinheiro.

Em consequência, o PR tem utilizado os seus próximos, internamente, a desafiarem as posições do Coordenador do MADEM e o ponto mais alto surgiu durante o comício público promovido por Sandji Fati, a 8 de Fevereiro. Fati, que é Coordenador do MADEM para o Sector de Bissau e deputado eleito nas listas do partido, considerou Braima Camará de “perdedor nato” e “chantagista” que tem recorrido a este expediente, sempre que entender, para reclamar dinheiro ao PR. Com este violento ataque, Sandji Fati, numa operação de defesa do PR e contra às pretensões de Braima Camará, desafiou os dirigentes em como é o momento de criarem Movimentos de Apoio ao segundo mandato de Umaro Sissoco Embaló.

Este posicionamento não visou apenas o Coordenador mas também o Conselho Nacional do MADEM G-15 que a 4 de Fevereiro deliberou a interdição da criação de Movimentos de Apoio a um segundo mandato do PR por associados ao partido.

Sem condições de exercer influência no espaço político no regime liderado por Umaro Sissoco Embaló, que ajudou a instituir, Braima Camará optou no início deste mês para uma via de confrontação quando rotulou o regime político vigente de “ditadura” e manifestou a sua disponibilidade para “morrer na sua pátria”, mas, a determinação, desta vez, é lutar pela afirmação da democracia. Essa “declaração de guerra” foi rapidamente acatada pelos apoiantes do PR que decidiram insultar o Coordenador.

Camará é hoje claramente contra a dissolução do parlamento e numa das suas declarações à imprensa defendeu era imperativo o funcionamento da Comissão Permanente da Assembleia Nacional Popular (ANP). O Coordenador do MADEM chegou a vincar que quando se dissolve ANP, a Comissão Permanente e demais estruturas da ANP devem continuar a funcionar para assegurar a gestão corrente.

Essas declarações deterioraram ainda mais o ambiente entre o PR e o Coordenador do MADEM. Nos corredores da Presidência da República consideram que a revolta do Coordenador do MADEM, contra Umaro Sissoco Embaló, deve-se ao facto de não ter conseguido exercer a influência que esperava na formação do Governo de Iniciativa Presidencial, liderado por Rui de Barros, e de estar a precisar de dinheiro.

Braima Camará decidiu distanciar-se da governação e, antes de regressar a Portugal, reuniu e advertiu a juventude que o partido não podia nomear um dirigente em qualquer Ministério, porque não ganhou as eleições, pelo que tudo competia ao PR. Essa declaração foi considerada nas hostes da Presidência da República como provocadora contra o Chefe de Estado e que merecia uma resposta. A resposta de Sissoco Embaló começou por incitar alguns declarados dirigentes do MADEM próximos a Braima Camará.

Para além de José Carlos Macedo ou Calido Baldé, próximos de Braima Camará que têm mantido distâncias, um dos que proferiu declarações pouco abonatórias às posições do Coordenador, foi quando, Fidélis Forbs, próximo de Braima Camará, revelou no encontro dos Coordenadores Regionais ter nomeado mais de 10 dirigentes do partido no actual Governo de Iniciativa Presidencial, esclarecendo assim insinuações.

Com quem pode o MADEM aliar-se?

A questão tem solução, mas não tem resposta. Com o PAIGC a possibilidade de aliança é nula e só será possível se o partido dividir-se. Resta a Aliança Koumba Lanta, já formalizada, mas actualmente em oposição declarada ao PR, por denunciarem interferência deste e do Partido dos Trabalhadores Guineenses (PTG) de Botche Candé pertencente ao mesmo grupo Étnico de Umaro Sissoco Embaló e diferente do Braima Camará.

Sentindo que perdia campo político, Braima Camará decidiu regressar à Guiné-Bissau no início de Fevereiro. A revolta manifesta por Braima Camará no momento do regresso de Portugal, foi apenas mais uma faísca que despoletou uma crise que estava abafada há muito.

Depois de considerar de abuso intolerável a detenção dos dirigentes do MADEM que o aguardavam no Aeroporto Internacional de Bissau, Braima Camará avançou para pedir ao Conselho Nacional do MADEM a autorização e legitimidade para negociar a coligação e as alianças políticas que considerar pertinentes para o partido.

O Conselho Nacional autorizou as negociações, mas o campo do Presidente da República no partido discorda radicalmente de uma aliança entre o MADEM com as correntes políticas pretendidas por Braima Camará.

Umaro Sissoco Embaló respondeu às investidas do Coordenador Nacional do MADEM com a convocação de uma reunião na Presidência da República na qual participaram 14 altos dirigentes do partido, entre eles quatro Coordenadores, sem que Braima Camará fosse informado. O que discutiram com o Chefe de Estado não foi divulgado, mas fontes no MADEM admitem que até a “criação de um MADEM Renovado” foi sugerido se Braima Camará não desistir da ideia de juntar-se a Aliança Koumba Lanta.

Para testar a fidelidade dos dirigentes, Braima Camará convocou uma reunião dos Coordenadores regionais na qual faltaram dois nomes sonantes. José Carlos Macedo, actual secretário de Estado da Ordem Pública, Coordenador do MADEM para a região de Gabú e Coordenador dos Coordenadores. Também Sandji Fati, coordenador do MADEM para o Sector Autónomo e que em paralelo fez o comício no qual atacou às posições do Coordenador.

Neste momento as condições que existem de entendimento político do MADEM é com a Aliança Koumba Lanta, composta pelo PRS e APU, tendo já reunido com a liderança destes por duas vezes. Umaro Sissoco Embaló quer o PTG e opõe-se á Aliança Koumba Lanta, por os líderes desta Aliança oporem-se ao modus operandi de Umaro Sissoco Embaló. No dia da apresentação da Aliança, Fernando Dias, presidente interino do PRS qualificou o regime de Sissoco Embaló de “ditatorial”, enquanto Nuno Nabian denunciou a existência de tráfico de droga no país.

O PR quer uma aliança entre o MADEM-G15 e o PTG de Botche Candé que, segundo Umaro Sissoco Embaló, partilham a mesma base eleitoral, como a Aliança Koumba Lanta. Braima Camará rejeita esta possibilidade por considerar que, Botche Candé foi quem “impediu” o MADEM de receber devidos benefícios junto do PR.


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