Guiné-Bissau formou mais quadros em 50 anos do que em 500 anos de colonialismo – África

Jurista admite que o país guineense “poderia estar melhor”, mas será sempre necessário compreender alguns atrasos, nomeadamente a falta de uma cultura de liderança política.



• Foto: Ludovic Marin/Getty



Guiné-Bissau


O jurista e político guineense Ernesto Dabo afirmou à Lusa que, em 50 anos da independência, o país formou mais quadros do que em 500 anos da presença colonial portuguesa, o que considera “grandes avanços” na atual Guiné-Bissau.

Num olhar dos 50 anos desde que a Guiné-Bissau declarou de forma unilateral a sua independência de Portugal colonial, Ernesto Dabo, antigo governante, este sábado retirado das lides políticas, apontou a redução do analfabetismo como “prova dos avanços registados”.

Considerado como dos pioneiros da música moderna guineense, Dabo observou que com a independência a Guiné-Bissau fez baixar a taxa do analfabetismo deixada pelo colono em 99% da população nativa para cerca de 40% atualmente.

“É uma vitória que se conseguiu em 50 anos, quando em 500 não conseguimos mais que 1%”, enfatizou aquele que, com 74 anos, é considerado como um dos “senadores da República” da Guiné-Bissau.

Os avanços, continuou, são sentidos em todos os domínios do novo país ao ponto de hoje não existir um único setor que não tenha quadro superior no país e sem contar com aqueles que preferiram emigrar ou ficar nos países onde foram estudar, disse.

“Há casos incríveis. Por exemplo, em Portugal retirarem-se de uma vez o número de médicos naturais da Guiné-Bissau, formados no pós-independência, tenho a impressão de que vai haver um colapso no Sistema [Nacional de Saúde de Portugal]”, notou.

O jurista admitiu que a Guiné-Bissau “poderia estar melhor”, mas tendo em conta o “ponto de partida”, será sempre necessário compreender alguns atrasos, nomeadamente a falta de uma cultura de liderança política.

Ernesto Dabo observou que durante o período colonial era raro encontrar um dirigente guineense na administração pública e que o território só começou a contar com quadros nativos da Guiné-Bissau com a luta armada pela libertação do território do jugo colonial.

Dabo frisou que mesmo nesse processo, que classifica de “salto instantâneo e altíssimo”, vários dirigentes chegaram à administração do novo Estado sem qualquer preparação para os cargos que passaram a ocupar.

“Um indivíduo chega a ministro sem nunca ser chefe de secção, outro chega a Presidente da República sem nunca ter sido ministro em lado nenhum, portanto, mais outro ‘handicap'”, referiu.

Com a proclamação unilateral do novo Estado em 24 de setembro 1973 e o reconhecimento de facto por Portugal em 1974, a Guiné-Bissau, mesmo com a impreparação técnica dos dirigentes, tinha pessoas com qualidade ética e moral na administração pública, disse Ernesto Dabo.

O problema que o país vive hoje dá-se a partir dos anos 1990 quando, na opinião do jurista, o ocidente começou a condicionar o apoio ao desenvolvimento com a adoção do seu modelo democrático, sem levar em conta a identidade cultural dos guineenses.

Ernesto Dabo é da opinião de que o guineense não consegue administrar bem o seu país devido ao baixo índice de literacia política, por ter uma economia não estruturada de forma moderna e a forma como a transição da administração pública foi feita da época colonial para um novo Estado.

“A transição de colónia para um Estado moderno implica uma educação reformulada, renovada e resiliente a um projeto de nação independente, de uma sociedade que quer reassumir a condução dos seus destinos segundo parâmetros culturais próprios”, concluiu.

A data da declaração unilateral da independência de Portugal é 24 de setembro, assinalada na altura com uma cerimónia organizada no Boé pela Assembleia Nacional Popular, e criticada pelo Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, que a considerou “uma manifestação de um partido”, tendo marcado os festejos oficiais para 16 de novembro, dia das Forças Armadas.

Entre os líderes convidados para as cerimónias oficiais estão o Presidente e primeiro-ministro portugueses, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, mas o programa oficial ainda não foi divulgado.

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