Gangwon 2024 prova que esportes de inverno criaram um sistema sustentável no Brasil

Edson Bindilatti, do alto de cinco participações em Jogos Olímpicos de Inverno
no bobsled, sendo a primeira em Salt Lake City 2002, gosta de usar a expressão
“quando cheguei aqui, tudo era mato”. Isso significa que o caminho dele e dos
demais atletas brasileiros naquele período, incluindo Emílio Strapasson,
pioneiro do skeleton no Brasil, ainda era bastante complexo e esporádico. E em
Gangwon 2024, os dois estão atuando como treinadores das modalidades que
ajudaram a colocar no cenário internacional. André Luiz e Luís Felipe, do
bobsled, e Caue Miota e Eduardo Strapasson, do skeleton, terão nos Jogos
Olímpicos de Inverno da Juventude Gangwon 2024 um cenário bem diferente do que
Emílio e Edson encontraram no começo nas modalidades de gelo e que começou a mudar há cerca de 10 anos, com a profissionalização da gestão da CBDG.

“Quando eu comecei, o esporte ainda era pouquíssimo conhecido no Brasil. Com o
tempo, fui vendo o quanto o Brasil poderia crescer na modalidade e ainda
acredito que estamos no começo. Quero ver muito mais jovens praticando”,
analisou Bindilatti. “Acredito que a minha presença como técnico traz muito
mais conforto e tranquilidade para eles. Na minha época, não tinha alguém
experiente e que falava a minha língua para me ensinar. Hoje posso passar
muitos detalhes de treinamento e pilotagem em português que dificilmente eles encontrariam
se a gente não tivesse entrado nas competições lá atrás”, completou.

“Jogos Olímpicos da Juventude são realmente uma incrível ação para envolver os jovens
atletas nas nossas modalidades. A partir de 2016, entendemos que é uma grande
oportunidade de fomentar os esportes e formar os nossos futuros campeões. A
seleção e qualificação de atletas uma prioridade dentro da sua estratégia. Mas
temos potencial para crescer ainda mais em participação e resultados”, analisou
Emílio. “Depois de 20 anos, fico feliz em ver que muito do conhecimento
adquirido ao longo do caminho, hoje, posso compartilhar com os nossos jovens
atletas. Mesmo com questões fora da pista, como minha amizade de longa data com
o treinador espanhol, que nos proporcionou uma parceria muito importante e
fundamental para a qualificação no skeleton”, contou.

Era impensável há 20 anos que o Brasil teria 17 atletas com menos de 20 anos
reunidos em evento multiesportivo do tamanho dos Jogos Olímpicos. Parte desse
trabalho se deve justamente aos pioneiros que, agora, atuam na captação e
capacitação de talentos dentro e fora do Brasil. Mas não só eles. Os atletas
atuais, como Nicole Silveira, estão trabalhando nesse sentido.

“Os ex-atletas são obstinados e apaixonados e, por isso, precisam continuar
presentes mesmo depois de parar de competir. Essa sequência, especialmente nas
nossas modalidades, depende de envolvimento. Assim, se cria uma história e uma
cultura que tende a crescer em resultados e número de atletas. O meu papel como
ex-atleta é apresentar o skeleton, seja dentro ou fora de casa, para que mais e
mais jovens se desafiem a representar o Brasil e conquistar o mundo!”, observou
Strapasson.

“Termos os atletas mais experientes e ex-atletas trabalhando para detectar
jovens com potencial para a práticas das modalidades de inverno é essencial.
Temos um olhar mais fino para identificar bons atletas porque sabemos
exatamente quais têm mais probabilidade de ter um bom desempenho. Não é um
olhar somente para a parte física, mas também como eles lidam com outras
pessoas, a parte mental, entre outros requisitos importantes para as
especificidades do esporte de gelo”, contou Bindilatti.

As Confederações Brasileiras de Desportos no Gelo e na Neve dão espaço para que
profissionais possam se especializar no trabalho com os esportes de inverno. Em
seu Centro de Treinamento, em São Paulo, a CBDG ofereceu cursos para
profissionais interessados em se tornar treinadores de curling e patinação no
ano passado. Para 2024, estão previstas aulas para a formação de técnicos de
hóquei no gelo.

Atualmente, com a visibilidade das modalidades e com mais atletas praticando –
a CBDG saiu de 100 atletas filiados para mais de 600 em dois anos, por exemplo
– há uma lacuna de profissionais especializados para as comissões técnicas e
administração. Além de treinadores e gestores que dominem as necessidades
específicas dos esportes de inverno, se os demais profissionais tiverem a
vivência das modalidades de gelo e neve, eles poderão agregar muito mais
soluções para o desenvolvimento das modalidades.

“Cada modalidade tem sua peculiaridade, mas é cada mais tangível a possibilidade
de se fazer uma carreira como treinador ou gestor de modalidades de inverno no
Brasil. Mesmo na área de preparação física direcionada às disciplinas de gelo em
neve, existe demanda por profissionais. Queremos seguir a trajetória de
crescimento para que o ecossistema dos esportes de inverno sejam cada vez mais
relevantes no Brasil”, analisou Emílio.

“Precisamos de mais profissionais para os esportes de inverno. O número de
atletas vem crescendo, mas ainda sentimos falta de profissionais capacitados
para determinadas modalidades. O lado bom é que estamos aqui para auxiliar e
capacitar estes profissionais”, completou Bindilatti.

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