Fundação surpresa com rejeição de proposta para celebrar centenário de Cabral


“Vimos a rejeição dessa proposta no parlamento com alguma surpresa. No fundo, tratava-se de uma resolução minimalista, com apenas um artigo, que declara que 2024 é o ano do centenário de Amílcar Cabral. Portanto, uma coisa muito simples, ponto final”, reagiu, em declarações à Lusa, Adão Rocha, membro do conselho de administração da FAC.


A reação surge um dia após a bancada parlamentar do Movimento para a Democracia (MpD, no poder) ter reprovado uma resolução apresentada pelo Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, oposição) para celebrar o centenário do nascimento do líder das independências da Guiné-Bissau e Cabo Verde, em 12 de setembro de 2024.


A proposta recebeu 32 votos a favor, sendo 28 do PAICV e quatro da União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID, também na oposição) e 34 votos contra do MpD.


Nas suas declarações de voto, o deputado e presidente do PAICV, Rui Semedo, disse tratar-se de um “momento triste” na história do parlamento cabo-verdiano, enquanto o líder parlamentar do MpD, Paulo Veiga, explicou que juridicamente a resolução é o instrumento errado para o efeito, considerando que deveria ser através de uma proposta de lei, apresentada pelo Governo.


Por sua vez, o presidente da UCID, João Santos Luís, desafiou os dois partidos do arco do poder em Cabo Verde a “despirem-se” das datas e da história do país, para as devolverem ao país, lembrando que o próprio primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, dissera que o país precisa reconciliar-se com a sua história.


Adão Rocha disse que a Fundação Amílcar Cabral tinha uma “expectativa positiva”, uma vez que há vários anos que vem dialogando com as autoridades do país, como o Governo e o presidente da Assembleia Nacional, sobre a questão do centenário, e a recetividade era boa.


“De qualquer forma, nós mantemos a via de diálogo aberto com as autoridades”, garantiu o membro da administração, entendendo que a rejeição pode não ser muito bem entendida em determinados quadrantes a nível internacional.


“Por exemplo, em Portugal a Assembleia da República já fez uma homenagem a Amílcar Cabral, foi incorporado na programação das comemorações do 25 de abril”, prosseguiu, lembrando que o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, esteve no país no ano passado para condecorar Cabral com a Ordem da Liberdade.


Entre muitas outras iniciativas realizadas em vários países e obras publicadas, Adão Rocha sublinhou a dimensão internacional de Amílcar Cabral, a figura mais conhecida do arquipélago a nível internacional e que extravasa as fronteiras também da Guiné-Bissau.


“Na realidade, não é Cabral que precisa de Cabo Verde, é Cabo Verde que precisa de Amílcar Cabral, para aumentar a sua penetração no mundo, para aumentar o prestígio e a credibilidade do país”, entendeu o porta-voz da fundação, com sede na cidade da Praia e presidida pelo antigo chefe de Estado cabo-verdiano Pedro Pires.


“Não se vai entender como é que outros países, Senegal, Guiné-Conacri e Angola, já têm ideias para celebração do centenário de Amílcar Cabral, quando aqui em Cabo Verde rejeita-se uma proposta tão simples como essa”, lamentou.


O membro da administração referiu que há quase dois anos que a fundação está a desenvolver a sua agenda de celebração do centenário do nascimento do seu patrono, com várias atividades já realizadas e outras em perspetiva, e em novembro prevê candidatar os seus escritos ao programa Memória do Mundo da UNESCO.


Fundador do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), que em Cabo Verde deu lugar ao PAICV, e líder dos movimentos independentistas nos dois países, Cabral nasceu em 12 de setembro de 1924 e foi assassinado em 20 de janeiro de 1973, em Conacri, aos 49 anos.

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