“Festival de Cinema Português”. As capelinhas e o Portugal profundo

Vicente Alves do Ó é um dos mais criativos cineastas portugueses e talvez seja o mais eclético. Inteligente, conhecedor da Sétima Arte como poucos, o argumentista, realizador e professor assina dois dos filmes apresentados no âmbito do Festival de Cinema Português, iniciativa do Centro Cultural Português – Instituto Camões e da Embaixada de Portugal no Luxemburgo.

Amadeo”, o filme biográfico sobre o pintor amarantino Amadeo de Souza Cardoso, abriu o certame. Trata-se de uma obra penetrante, profunda que dá a conhecer a personalidade surpreendente do artista.

Alves do Ó filma momentos essenciais da vida de Amadeo, mas centra-se na morte, quase nos levando a alma juntamente com as vítimas da gripe espanhola. A morte do protagonista faz pensar na pandemia de covid-19 (apesar de o filme ter sido rodado antes de 2020) e é talvez um dos mais emblemáticos momentos do nosso cinema recente.

Mas Vicente Alves do Ó também trouxe ao Luxemburgo “Quero-te tanto”, uma comédia sem limites, mas, infelizmente, sem muito humor. Uma catrefada de atores conhecidíssimos – sobretudo da televisão – encontram-se neste filme para debitar piadas e situação que poucas vezes fazem rir.

Mas o objetivo hoje não é fazer a crítica dos filmes de Alves do Ó. O cineasta trouxe ao festival uma preocupação que já tem anos: em Portugal faz-se sobretudo cinema para festivais. “Os realizadores não querem saber do que pensa o público”, afirmou o realizador, lamentando também que os apoios do Instituto do Cinema nunca contemplem as comédias, que são consideradas um género menor, nem os filmes para crianças por serem vistos como desprovidos de conteúdo artístico.

A virtude de Vicente Alves do Ó é a de pensar livremente e viver os vários mundos que o cinema tem para oferecer. E se lê estas linhas antes de quinta-feira, 16 de novembro, saiba que ainda vai a tempo para ver um dos melhores filmes portugueses dos últimos tempos, que conta com interpretações fabulosas de dois monstros: Albano Jerónimo e Nuno Lopes.

Com um guião muito bem escrito, a força de “Restos do Vento” está na sua capacidade de nos envolver no ambiente e de nos fazer apreciar as personagens. Tiago Guedes, o realizador, escreveu “Restos do Vento” o emigrante diretor do Festival de Avignon, o encenador e dramaturgo Tiago Rodrigues. São eles os culpados por este grande trabalho que mostra um Portugal profundo, tal como Cristèle Alves Meira o faz em “Alma Viva”.

Aliás, a seleção deste festival está muito ligada aos territórios, ao Portugal das aldeias e das capelinhas, as tais que dão apoios sempre aos mesmos filmes e aos mesmos criadores.

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E se ainda foi a tempo de ver “Restos do Vento”, reserve a sexta-feira para “Autografia”, um documentário de Miguel Gonçalves Mendes, que encerra o festival no dia 17 de novembro, e integra nas comemorações do centenário de Mário Cesariny.

Os 100 anos do nascimento do poeta e artista surrealista, Mário Cesariny, assinalaram-se a 9 de agosto e esta projeção do filme vencedor do prémio de melhor documentário português no DocLisboa em 2004 é a melhor forma de homenagear esta personalidade ímpar. O filme é um retrato, um mergulho na vida, no percurso e na obra do poeta e pintor Mário Cesariny que se vai revelando na intimidade do seu quarto e em locais que prefere.

Festival de Cinema Português 2023, de 10 a 17 de novembro, no cinema Utopia e na Cinemateca do Luxemburgo.

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