Algures em Guadalupe, nos arredores de Évora, existe uma estrada que nos leva diretamente para um tesouro do Alentejo: uma herdade com 11 hectares cuja história começou a ser escrita em 1536. Hoje em dia é conhecida como Imani Country House, foi um dos primeiros turismos rurais a abrirem na região e recebe hóspedes de todo o mundo — mas nem sempre foi assim.
A Quinta de Montemuro ganhou esse nome como propriedade agrícola, no início do século XX, e chegou a ter meia centena de trabalhadores a tempo inteiro, embora a exploração seja muito mais antiga. Prova disso são o complexo subterrâneo de minas, poços e túneis de irrigação romanos que, ainda hoje, garantem a distribuição de água em todo o terreno.
Segundo um documento que está guardado na Torre do Tombo, a herdade já existe desde o século XVII e sabe-se que, em tempos, o seu aluguer custava 612 réis e duas galinhas. Quem nos conta este fun fact são os atuais proprietários, que se apaixonaram perdidamente por este local com tanques de pedra, minas de água e um bosque de cedros — e quiseram partilhá-lo com outras pessoas.
Quando o ator José Pedro de Vasconcelos (45 anos) e a produtora de televisão Mariana Roxo (47 anos) chegaram pela primeira vez à Quinta de Montemuro, em 2011, depararam-se com uma propriedade completamente abandonada. Para uns, seria apenas uma herdade em ruínas, mas, para o casal, “foi amor à primeira vista”.
“Encontrámos o local um bocado por acaso. Andávamos a ver alguns espaços para construir uma casa de fim de semana e viemos visitá-la, sem nenhum projeto definido na nossa cabeça”, começa por contar à NiT Mariana Roxo.
Assim que a visitaram, souberam de imediato que queriam ficar com ela — mesmo sendo muito maior do que aquilo que estavam inicialmente à procura. “Estava quase a ser vendida a franceses, mas disse à proprietária para nos ligar caso o interessado fugisse”, recorda. Dito e certo: nunca mais se ouviu falar do francês e a propriedade foi parar às mãos do casal.
Sempre acreditaram que esta quinta era um lugar especial e único no Alentejo e, com isso, cresceu também a vontade de a partilhar com outras pessoas. Foi assim que nasceu a Imani, uma palavra em suaíli que significa “acreditar”.
“Inicialmente ainda achámos que a melhor forma de rentabilizar seria fazer eventos, como casamentos, porque o espaço era muito giro e grande, mas decidimos abrir um boutique hotel”, diz.
Os primeiros tempos na quinta foram dedicados a limpar o mato que cobria tudo, desde um tanque aos antigos bancos em pedra que se encontravam pelo caminho. As telhas em canudo das casas foram todas limpas e reaproveitadas, os beirados e chaminés mantidos na forma original e as antigas ruínas de estábulos transformaram-se em suites. Tudo isto com a ajuda de Andrew Shore, um arquiteto australiano que também se apaixonou pelo Alentejo e assinou o projeto de recuperação.
A Imani Country House começou a receber hóspedes em 2011, numa altura em que ainda existia pouca oferta no segmento de turismo rural com esta qualidade. “A ideia era fazer um hotel no campo, inserido nesta experiência de contacto com a natureza, silêncio e privacidade, mas com o conforto de um hotel, com peças e uma decoração mais arrojada”, destaca.
Acima de tudo, a preservação e o respeito pela natureza foram sempre uma prioridade. Nesta casa de campo, não são utilizados pesticidas ou químicos, a água quente é pré-aquecida por painéis solares e a lenha provém de limpezas florestais.
Tanto Mariana como José adoravam viajar e sempre foram uns colecionadores de peças vintage, que acabaram por utilizar para decorar o espaço. Mesmo sem qualquer experiência na área do turismo, transformaram uma herdade em ruínas num turismo inovador e integraram a prestigiada “Hot List” da Condé Nast Traveller com apenas um ano de casa.
Além de estar inserido numa propriedade de 11 hectares completamente isolada (mas apenas a 15 minutos de Évora), o próprio alojamento não recebe mais do que 14 hóspedes, reforçando ainda mais a ideia de que é um projeto intimista e familiar. A Imani Country House dispõe de sete unidades de alojamento, sendo que dois são quartos duplos e os restantes cinco são suites, que podem chegar aos 300 metros quadrados de área — e todos são diferentes uns dos outros.
Uns têm um uma sala abobadada com violinos nas paredes ou uma bicicleta no teto, outros têm uma banheira vitoriana e até há quartos com “banheiras enterradas no chão”. “Estão cheios de pequenas brincadeiras, de apontamentos e de histórias que queremos contar. Somos apaixonados por objetos e nem sempre precisam de ter uma função”, conta Mariana Roxo.
No salão, por exemplo, têm uma montra enorme com peças antigas, desde óculos, livros de histórias infantis, compassos e telefones. “Misturámos um pouco de tudo e até já temos clientes que nos trazem objetos. Em vez de os deitarmos fora, damos-lhes uma segunda vida”.
O sossego e a tranquilidade que já são característicos da Imani Country House refletem-se também na sua oferta: há duas piscinas repletas de história, uma delas com um formato circular, inserida num olival; um bar que se prolonga por um alpendre com vista para a paisagem; uma área de lazer com música, lareira, mesa de jogos e piano; e o restaurante Improvável, onde o chef Rui Rosário convida a experimentar pratos tipicamente portugueses com produtos da região e ingredientes cultivados na quinta.
No alpendre exterior encontra-se ainda uma cama de rede e uma mesa de matraquilhos- A quinta estende-se por 11 hectares com pomares, jardins e oliveiras centenárias, por onde passeiam dois burros e um rebanho de ovelhas. Não têm nenhum spa construído, mas também oferecem serviços, como massagens, no meio da natureza.
A Imani Country House já foi distinguido várias vezes, uma delas pela revista norte-americana Condé Nast Travel, como um dos melhores espaços do mundo para ficar por menos de 260€ por dia, em 2012. Uma noite no turismo rural, com pequeno-almoço incluído, varia entre os 145€ e os 210€.
De seguida, carregue na galeria para conhecer melhor este “pequeno oásis no meio do Alentejo”.
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