No século 16, a conquista do Império Inca pela Espanha forçou o reassentamento em massa de indígenas em cidades planejadas. Para entender as mudanças socioculturais provocadas por esse evento, pesquisadores criaram a Plataforma Geoespacial para Cultura, História e Arqueologia Andina (GeoPACHA, na sigla em inglês). Suas descobertas foram publicadas na revista Antiquity na última segunda-feira (18).
O GeoPACHA é uma plataforma de código aberto que permite o mapeamento de sítios arqueológicos com imagens de satélites em alta resolução. Após um ano de uso para coletar dados sobre sítios antigos, estradas, currais de gado e terraços agrícolas, a equipe formada por Parker VanValkenburgh, Steven Wernke e seus colegas dos Estados Unidos e do Peru descobriu diversas informações sobre como a colonização espanhola e o reassentamento forçado mudaram não apenas a densidade populacional da região como também a paisagem natural e até mesmo o clima.
VanValkenburgh, professor associado de antropologia da Universidade Brown (EUA), já liderou projetos de levantamento arqueológico e escavação focados nas mudanças na dieta pós-colonização a partir de poços com resíduos alimentares. Contudo, a parceria com Wernke, da Universidade Vanderbilt, surgiu para desenvolver uma ferramenta que permitisse fazer mapeamentos em uma escala maior.
Mapeamento
O GeoPACHA começou em 2018. O trabalho de mapeamento buscou, por exemplo, encontrar fortificações no topo de colinas para responder a perguntas sobre conflitos sociais nos Andes entre os anos 1100 e 1400. Além disso, os pesquisadores queriam identificar locais associados a lomas (oásis verdejantes envoltos em neblina) para achar padrões nos estabelecimentos dos povos indígenas. Após essa etapa, o material foi analisado por meses.
“É o que chamamos de levantamento de ‘força bruta’, disse VanValkenburgh em comunicado. “Você pega pessoas treinadas para reconhecer sítios arqueológicos e faz com que elas simplesmente cliquem sempre que reconhecem algo.”
Segundo VanValkenburgh, datar todos os terraços antigos já construídos nos Andes poderia ajudar os arqueólogos a responder a perguntas sobre como a mudança climática, a densidade populacional e a expansão imperial influenciaram as decisões dos povos indígenas a respeito de onde se estabelecer e cultivar – algo que não era possível de se fazer com a escavação de pequenos vales e itens individuais.
Os estudos incluíram a análise da localização de estradas e currais de ovelhas no planalto central do Peru, liderada por Bethany Whitlock, graduada em antropologia pela Universidade Brown. Ela afirmou que a infraestrutura de pastoreio tendia a se “concentrar em torno de importantes assentamentos coloniais e atuais”, o que evidenciaria o impacto do colonialismo sobre o pastoreio e o assentamento nos Andes.
Já um estudo conduzido por Giancarlo Marcone, professor da Universidade de Engenharia e Tecnologia do Peru, se concentrou nas lomas da costa central do país. Ele apontou evidências de que os colonizadores passavam muito tempo nas lomas – algo que poderá ser analisado com o GeoPACHA, uma vez a atividade não é bem documentada devido à dificuldade de acessar os locais a pé.
“Trabalhar em escalas maiores pode ajudar os arqueólogos a gerar pesquisas mais impactantes que abordem tópicos como o desenvolvimento da desigualdade social, os legados devastadores do colonialismo e as respostas das sociedades do passado às mudanças climáticas”, disse VanValkenburgh. “Precisamos de um registro mais profundo de como os seres humanos lidaram com esses tipos de desafios no passado. A arqueologia é um dos raros campos que nos fornece o tipo de profundidade temporal de que precisamos para fazer isso.”
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