“Com Cabo Verde ganhámos a Portugal, no Estoril. No final do jogo estava toda a gente a dançar nas ruas, a minha mãe também”

Como foi parar ao futebol feminino?
Através do Vítor Silvestre, com quem tinha trabalhado no Sporting. O Vítor foi para o Vitória com o José Couceiro e eu fui para as seleções femininas de formação trabalhar com um dos meus mentores, o professor José Paisana que, curiosamente, na altura revelou-me que foi um dos responsáveis por ter eu ido para o Benfica, quando era miúdo, foi ele que assinou o relatório.

Entrou no meio do futebol feminino como treinador de guarda-redes. Como foi essa experiência?
Gostei muito da dedicação, do compromisso, da positividade, de perceber que se propuséssemos às jogadoras um jogo que elas conseguissem jogar, um jogo adaptado à mulher portuguesa – que tem um conjunto de características diferentes da mulher norueguesa, da inglesa, não só em termos atléticos, como de tomada de decisão, de relação com a bola -, era possível começarmos a competir com estas seleções.

Pode explicar melhor essas diferenças?
Por exemplo, se formos aplicar um conjunto de princípios de jogo de largura e profundidade no futebol feminino português da mesma maneira que aplicamos aos homens, existe uma capacidade menor de deslocar a bola à distância, da precisão de um determinado tipo de passes, quer dizer que o jogo vai ser muito menos eficaz. Se, por outro lado, promovermos um jogo com maior proximidade, com maiores relações a duas, três, quatro jogadoras, estou a falar em termos ofensivos, porque a jogadora portuguesa é mais baixa, mas mais ágil, resulta melhor esse jogo mais curto, mais de apoio. As nórdicas podem fazer um jogo mais amplo e mais largo porque o futebol nesses países está mais desenvolvido, sobretudo na formação, mas também profissionalmente; por isso as nórdicas são jogadoras que deslocam muito mais a bola à distância.

Têm mais força e menos técnica?
Exatamente. Não quer dizer que tecnicamente não sejam evoluídas, mas conseguem ter uma dimensão física e de execução mais larga no campo. Se em termos defensivos jogarmos contra equipas mais fortes a defender muito baixo, ali à frente da área, vamos levar um massacre, mas se saltarmos a pressionar e compactarmos a equipa o mais longe possível da baliza vamos pôr o adversário sob muito maior stress e quando recuperarmos a bola, já estamos muito mais perto da baliza adversária.

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