Adivinhe qual a comunidade lusófona com maior crescimento no Luxemburgo, nos últimos anos? Difícil? A resposta é simples: é a comunidade guineense. Os números divulgados pelo Instituto Nacional de Estatísticas do Luxemburgo revelam que a comunidade guineense cresceu mais de 500% nos últimos anos.
Foi para dar resposta às necessidades desta comunidade que não pára de crescer que nasceu a associação “Cabas de Harmonia”. “Quando chegámos ao Luxemburgo, vindos da Guiné-Bissau, muitos de nós reuníamos em casa de amigos e surgiu a ideia de criar uma associação solidária que foi fundada em 2017 em Pétange”, revela Iaia Djalo, secretário da organização. Recorreram ao CLAE para ajudar na formalização da sociedade para a criação dos estatutos. Foram muitos os nomes propostos para batizar a organização. “Mas alguém sugeriu o nome ‘Cabas de Harmonia’ e porque significa união, em termos tradicionais, escolhemos esse nome”, descreve o dirigente da associação.
IaIa Djalo, secretário da associação “Cabas de Harmonia”. © Créditos: Marc Wilwert
“O objetivo era ajudar os migrantes guineenses que chegam ao Luxemburgo e também para ajudar o nosso país de origem”, sublinha. O primeiro projeto foi uma parceria com o Hospital de Kirchberg através da qual conseguiram recolher material de hospital para enviar para Guiné-Bissau. “Ao todo conseguimos cerca de 120 colchões para enviar para a Guiné-Bissau o que teve um custo de transporte de 4.600 euros”, revela. Tudo pago através de fundos conseguidos através das quotas dos associados.
Mas, apesar de haver imagens e reportagens que mostram a entrega do material, não foi fornecido pelo ministério da Saúde guineense um documento formal confirmando o recebimento. E sem esse documento os responsáveis do Hospital de Kirchberg, que já se tinham disponibilizado para ceder mais material, não puderam dar mais apoio. A falta de um papel oficial acabou por impedir a continuação desta ponte de ajuda.
Comunidade com cada vez mais problemas
Assim, a associação “Cabas de Harmonia” decidiu voltar-se para o apoio à comunidade guineense que vive no Luxemburgo e que enfrenta cada vez mais problemas. Depois da pandemia surgiram mais pedidos de ajuda. “Muitas vezes as pessoas têm vergonha e não pedem diretamente, pelo que acabamos por saber dos casos através de outros e assim conseguimos ajudar”, descreve.
“Ajudamos também a fazer o currículo, gratuitamente, a quem acaba de chegar para se integrar no mercado de trabalho. Também encaminhamos para o CLAE quem tem dificuldade em obter o cartão de residência. Quando sabemos de ofertas de emprego também as divulgamos”, sublinha o secretário da “Cabas de Harmonia”. “O esforço dos migrantes e as dificuldades no dia a dia, num país de emigração como é o Luxemburgo, são muitos. Muitos trabalham de segunda a sábado e precisam de um dia para organizar a sua vida, o que faz com que a disponibilidade para participar seja pouca”, salienta.
Daniela e Mauro querem fazer dos acessórios a arte principal
Trabalhar em cooperação com outras associações
Para começar juntaram-se a outras associações da Guiné-Bissau para surgirem a uma só voz, num stand comum, no Festival das Migrações, o ponto de encontro das comunidades migrantes do país que todos os anos é organizado pelo CLAE.
Organizam festas, atividades e também apoiam a comemoração da independência da Guiné-Bissau. “A participação é enorme”, diz. “A nossa principal dificuldade é a falta de um espaço para nos reunirmos com todos os companheiros”, diz IaIa Djalo. Por isso muitas das atividades realizam-se em Athus na Bélgica, porque não conseguem arranjar espaços disponíveis, em Pétange, onde a associação é sediada. “A Comuna de Pétange parece que só se lembra de nós quando é preciso ajudar no serviço comunitário e temos ajudado sempre”, sublinha. Mas nunca tiveram qualquer apoio para ter um espaço, nem apoio financeiro público. Vivem apenas das quotas dos associados.
Recentemente decidiram avançar com um novo apoio aos seus associados que surge em resposta a uma nova necessidade. Quando morre algum familiar no Luxemburgo não existe qualquer apoio estatal para o funeral. E muitos manifestam, ainda em vida, a intenção de quererem ser enterrados na sua terra natal. Mas há muitas famílias que não conseguem cumprir esse desejo, por não terem dinheiro para o fazer. A associação tem tido conhecimento de vários casos. Assim, na última reunião decidiram prestar um novo apoio aos seus associados que têm o pagamento das quotas em dia. “Vamos apoiar a trasladação dos corpos dos seus familiares falecidos para a Guiné-Bissau”, revela Iaia Djalo. “Um processo que pode custar cerca de cinco mil euros”, adianta.
Atualmente, contam com cerca de 80 associados, entre residentes no Luxemburgo, Bélgica e França. E têm também alguns residentes na Guiné-Bissau que integram uma filial da associação. “Todos os nossos associados têm um forte ligação à Guiné-Bissau e dão a conhecer as suas raízes aos seus filhos mesmo quando nasceram aqui no Luxemburgo. No meu caso levei os meus filhos à Guiné e agora eles estão sempre a perguntar quando é que vão voltar”, salienta.
Projetos para os próximos anos? “Olho para o futuro da associação com muito otimismo, porque as pessoas estão motivadas para criar eventos. Com a vontade de todos poderemos ainda fazer mais, porque a associação é de todos”, conclui Iaia Djalo.
Crédito: Link de origem



Comentários estão fechados.