Moçambique. Promessas e planfletos rasgados no fecho da campanha no Chimoio


No fim de 13 dias de campanha eleitoral para as sextas eleições autárquicas, que se realizam a 11 de outubro, Chimoio manteve-se pacata, fora da habitual “agitação eleitoral”, com um número contado de simpatizantes a aderir nas ruas às pálidas caravanas políticas que privilegiaram a campanha porta a porta.


“Duas leituras podem-se se fazer deste cenário: um desinteresse popular pela política ou há pouca expectativa da população nestas eleições”, disse à Lusa Martinho Marcos, politólogo, realçando que a fraca participação popular “é um mau sinal para a política e para as eleições”.


O também docente universitário observa que a tímida participação popular nesta campanha eleitoral, encerrada domingo, contrasta com rasgadas promessas dos cabeças de listas dos três principais partidos com representação parlamentar, quase todos a jurarem grande desenvolvimento para Chimoio.


“Nem as promessas eleitorais vibraram com o público, e isso devia ser matéria de reflexão no seio dos partidos”, frisou Martinho Marcos, que elogiou a ausência da violência no processo.


Em Chinfura, um subúrbio poeirento e a ser engolido por erosão, o cabeça-de-lista do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) voltou a destacar a industrialização de Chimoio e expansão de transporte público, além dos cuidados ambientais que Chimoio precisa, sobretudo, o reflorestamento das encostas do monte Cabeça do Velho, uma rocha misteriosa com forma de cabeça humana.


“Precisamos reflorestar o monte e devolver os cabritos que estavam lá. Chimoio já não chove porque os espíritos da cidade fugiram. A nossa identidade foi violada”, disse Celestino Capereiro, aplaudido por dezenas de membros no encerramento da campanha na sede do partido, em Chinfura.


A serra está a saque de gente que procura pedra para a construção civil, sofre com queimadas descontroladas, motivada pela caça de ratos para o consumo nas encostas, e que tem dizimado milhares de pequenas espécies.


O lugar também encerra vários mistérios, como os lençóis brancos, que até 2011, apareciam lavados e estendidos todas as manhãs sem que se saiba quem os pôs lá, os bodes de colar vermelho sem dono conhecido, que desfilavam indiferentes nos bairros densamente habitados nos arredores do monte, e ainda as “lágrimas” que escorrem em todos os períodos do ano da zona dos olhos do “velho”, proveniente de uma minúscula nascente no topo da rocha.


Já a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo, maior partido da oposição) e a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), disputaram o mesmo eleitorado no encerramento da campanha no bairro da Soalpo, um terreno pantanoso para o partido que governou o município desde as primeiras eleições.


João Ferreira, candidato da Frelimo, prometeu construir uma praia artificial na acidentada cidade de Chimoio.


“Somos o único município que comprou muito equipamento, e demos nomes a cada um dos camiões. Chimoio já é a quinta maior cidade do país e nós podemos continuar a desenvolver. Não vamos ser enganados com pessoas que querem fazer cemitérios para vocês, nós queremos trazer vidas, no último mandato fizemos história em Moçambique”, disse o candidato, interrompido várias vezes por aplausos no “showmício” de encerramento da campanha.


Por sua vez, o candidato da Renamo, Samuel Macocove, deplorou o subdesenvolvimento da cidade, que explicou, regrediu em vários aspetos desde a rede de estradas até ao saneamento: “Temos que ir votar para ruas melhores para a nossa cidade, expansão de eletricidade para os bairros, água potável para todos e a reciclagem dos mercados. Chimoio já foi a cidade mais limpa, ao longo dos 46 anos virou uma cidade de lixo”.


Mais de 8,7 milhões de eleitores moçambicanos vão escolher 65 novos autarcas em 11 de outubro, incluindo em 12 novas autarquias, que se juntam a 53 já existentes.

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