Manuel Gaspar em França: «Diferença com Portugal? É uma realidade completamente diferente» – Andebol

Guarda-redes internacional conta-nos a sua experiência ao serviço do Dijon e não esquece o Sporting e a Seleção




Manuel Gaspar, guarda-redes internacional português de 25 anos que representou o Sporting, Boa Hora e Nantes, representa atualmente o Dijón, campeão da segunda divisão francesa em 2023, por quem se tem destacado no principal escalão gaulês, com 21 jogos, 106 defesas (média de 5,05 defesas por jogos). Após a derrota por 33-23 frente ao Ivry, o Dijon ocupa atualmente no 16.° e último lugar com 6 pontos, a 2 do Créteil e a 4 do Saran, primeiro clube acima da linha de despromoção (as duas últimas equipas descem de divisão). Leia a entrevista a Record, onde Manuel Gaspar fala do seu percurso em França, do Sporting e Seleção…

RECORD – Faltam 9 jogos para o fim da temporada. Qual é o ponto da situação? 

MANUEL GASPAR –  O ponto da situação, como já é desde janeiro, é jogo a jogo. Com essa mentalidade, conseguimos pontos importantes em Aix. Depois tivemos um calendário complicado, sem conseguir retirar pontos aos grandes. E depois, em Fevereiro, tínhamos o nosso mês, vamos assim dizer, os jogos com o Saran e o Ivry fora, e Dunkerque em casa. Perdemos com o Saran, aí foi uma grande facada na confiança que tínhamos depois do jogo frente ao Aix. O jogo frente ao Ivry foi um reflexo disso foi um espelho, que não tivemos capacidade mental para aguentar o poder do Ivry. 

R – A nível individual, como é que tem sido esta temporada? 

MG – É muito complicado. Completamente diferente do que estou habituado. Mas era o que eu esperava, não uma realidade tão agressiva: uma equipa que sobe à primeira divisão aguentar os resultados das equipas francesas, que é um campeonato incrível. Muito complicado. Mas este ano foi a pensar em mim: aspetos físicos, aspetos mentais e este ano em aspetos mentais, tem ajudado bastante com a dificuldade dos jogos e do facto de algumas vezes parecer que estamos sozinhos e não temos a ajuda da nossa defesa. Mas é complicado, mas acho que consigo retirar alguns pontos bons e espero acabar o ano em alta. 



Manuel Gaspar



R – Nessa parte psicológica, como é que se trabalha quando se é um guarda-redes? Por exemplo, na temporada passada, lutava pelos lugares cimeiros, para as competições europeias, e agora luta para não descer…

MG – É muito complicado porque podemos dizer que foi um escape o Dijon porque eu queria-me manter na Liga francesa porque gostei muito da minha primeira experiência no estrangeiro. Foi uma teimosia minha. E não me arrependo apesar de ser muito complicado. Como é óbvio isso notou-se, visto que este ano não participei no Europeu de andebol, não participei no Pré-Olímpico. Mas é algo para o qual eu vou lutar. Acho que vai ser uma coisa boa para mim. Vou aguentar mais psicologicamente. Sei que para um guarda redes é mais tarde. O aspeto mental é uma coisa que demora anos. E desde dos 16 anos que estive na primeira equipa do Sporting, os guarda redes sempre me avisaram disso, que é preciso ter calma no jogo, porque basicamente é um posto de solo, jogamos sozinhos e agora percebo o que eles me diziam que na altura era só vou ter calma, vou jogar, não há problema. E agora percebo realmente o que quer dizer. É um trabalho muito sozinho e às vezes silencioso, mas creio que vale a pena e acho que, com o que estou a passar, vou ter uns bons anos pela frente. 

R – E a experiência em França? Como é este campeonato em relação, por exemplo, ao português? 

MG – É do 8 ao 80. A Liga é profissional, a segunda divisão é profissional e alguns clubes de terceira divisão são profissionais. É uma diferença enorme: estrutura, aspeto do espetáculo, preparação para o jogo do público, dos partners. É uma realidade completamente diferente e eu fiquei apaixonado por isso, por o campeonato português, infelizmente, ser semi-profissional e haver quatro equipas que conseguem pagar o salário aos jogadores, mas de resto é complicado. O Sporting tem uma realidade parecida com, em aspectos diferentes, o Nantes de ser uma equipa de competições europeias, ter todas as condições, conseguir ser profissional e muito correto. Mas há uma diferença enorme que é as outras equipas do nosso campeonato. E é uma competitividade que é muito complicada arranjar em Portugal e só nos campeonatos estrangeiros. Os profissionais: o alemão, o francês, espanhol, dinamarquês. E é uma coisa incrível que acho que fiquei estupefacto. Daí querer ter ficado cá por teimosia. Mas acho que vale a pena por ser uma experiência única. E agora acho que é trabalhar para continuar neste campeonato. 

R – E continua a seguir os resultados do Sporting? 

MG – Claro. Eu tenho, não sei, uma doença desde criança, que é sempre acompanhei todos os campeonatos, todos os resultados de Portugal, segunda divisão, que agora é divisão de honra, sempre acompanhei. O campeonato, este ano, está tranquilo para o Sporting. Estão numa fase incrível e os outros estão numa fase menos boa e estão a aproveitar isso muito bem. Na Europa, o que fizeram foi espantoso. É uma coisa incrível ganhar ao Füchse Berlin duas vezes. Uma vez na Alemanha é uma coisa que há dois anos era impossível. Eles estão a trabalhar muito bem e espero que consigam ter o projeto para aguentar isso mais anos também para a Liga melhorar, para ser uma liga melhor, mais competitiva e conseguirem trazer o aspeto profissional à Liga. 



Manuel Gaspar em ação



R – A seleção portuguesa não conseguiu chegar aos Jogos Olímpicos. Acaba por ser uma deceção?

MG – Acho que tem de ser uma deceção porque o trajeto que temos feito desde 2020, quase que nos habituou aos bons resultados, às coisas boas. E acho que para Portugal, querer ter esse nível, querer ir aos Jogos Olímpicos, aos campeonatos europeus e aos mundiais, estar a competir para as medalhas, acho que tem de ser uma deceção. Obrigatoriamente uma decepção, porque nós queremos estar lá e só com a mentalidade de queremos estar lá é que conseguimos lá chegar. Apesar de sabermos que tenha sido um torneio complicado, apanhar a Noruega, que foi muito diferente do Europeu, uma Noruega mais forte, mais coesa. E a Hungria, último jogo em casa, que é muito complicado. Mas sim, acredito que tenha sido uma decepção. 

R – Habituou mal o público esta seleção? Muitos sucessos, mas também acontecem desaires…

MG –  Claro. Quer dizer que estamos a fazer um bom trabalho. É assim que têm de ser. Todos os grandes criam deceções, quando não conseguem os objetivos. Por isso, Portugal está no bom caminho. 

R – Este tipo de experiência em França pode trazer mais experiência ao Manuel Gaspar, para depois trazer isso também para a Seleção? 

MG – Claro. Já houve vários exemplos de jogadores que saíram de Portugal há uns anos. O primeiro, que saiu para o estrangeiro, viveu essa experiência da primeira divisão, um campeonato completamente diferente, e mostrou o caminho. Quanto mais jogadores tivermos nos melhores campeonatos, melhor é a seleção e mais ganha Portugal.


Manuel Gaspar, guarda-redes internacional português de 25 anos que representou o Sporting, Boa Hora e Nantes, representa atualmente o Dijón, campeão da segunda divisão francesa em 2023, por quem se tem destacado no …



Por Marco Martins


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