“Nada.”
Este diálogo acontece muitas vezes entre pais e filhos no final de um dia escolar. Por muito interesse que os pais revelem, as crianças não têm interesse em contar a pergunta do professor a que não responderam ou o texto em que sentiram dificuldade em ler. Foi a pensar neste problema que Evelina Necula, uma empreendedora romena, e dois amigos criaram a Kinderpedia em 2014.
A plataforma digital promete facilitar as tarefas de gestão escolar para dar mais tempo aos professores para ensinar e comunicar com os pais. “Criámos a tecnologia para fomentar um ambiente onde escolas e pais possam cooperar para que os alunos recebam uma educação personalizada, que lhes permita acelerar a sua aprendizagem”, explica Evelina Necula à SÁBADO.
Como? Comunicando em permanência, através de um software que os pais descarregam nos telemóveis, sobre as atividades realizadas na sala de aula e as dificuldades apresentadas por cada aluno. “Em Portugal, há uma reunião de pais no início do ano e outras se os pais o pedirem. Com a Kinderpedia a comunicação entre professores e pais é diária”, diz Evelina Necula.
Pais interagem mais com a escola
Através da plataforma, os professores podem enviar fotos e vídeos das atividades dos filhos em sala de aula, enviar mensagens sobre a matéria que está a ser lecionada e informar sobre dificuldades manifestadas por cada um dos alunos. Por sua vez, os pais podem avisar sobre atrasos, esclarecer dúvidas e pedir reuniões, por exemplo.
Evelina Necula apresentou a plataforma Kinderpedia na Web Summit de Lisboa
Pedro Catarino
“No início, tivemos receio que o uso do software pudesse resultar em menos visitas dos pais à escola”, conta Margarida Silveira, diretora da Escola Raiz – Active Learning School, em Lisboa, que adquiriu o software em 2020. “Mas aconteceu o contrário: os pais estão mais informados sobre as dificuldades dos filhos na escola e pedem para falar com os professores mais vezes”, acrescenta.
A escola aplica um método de ensino em que a criança aprende fazendo, resolvendo problemas, e em que o professor não é aquela figura à frente da sala de aula como detentor do conhecimento. “Hoje o conhecimento está à distância de um clique”, diz Margarida Silveira. “É no desenvolvimento de atividades que a criança constrói o seu conhecimento”, acrescenta. Todos os alunos do 1º ciclo usam computador ou tablet. Os mais velhos, do 6º ano, também usam a Kinderpedia para falar com os professores.
Quando foi aplicado, em 2020, foi fundamental para aproximar os pais da escola numa altura em que se vivia ainda as interdições impostas pela pandemia da covid-19. Depois permitiu maior troca de informação, muitas vezes em tempo real. “Os professores podem partilhar uma aprendizagem de matemática, por exemplo. E os pais podem enviar fotos de algo que os filhos tenham construído aplicando esse conhecimento”, explica Margarida Silveira.
A plataforma também está a ser usada nas creches e jardins de infância da Santa Casa da Misericórdia de Sintra. “É um sistema de comunicação permanente com os pais que tem sido essencial”, admite o provedor Manuel Costa Oliveira. Através do software, as educadoras avisam os pais quando uma das crianças adoece, por exemplo, ou enviam fotos da visita que estão a realizar ao jardim zoológico. “Os pais ficam mais descansados e vivem mais de perto aquilo que os filhos estão a viver”, conclui o provedor.
Alunos mais responsáveis
O contacto permanente é a mais valia da Kinderpedia. “As famílias sentem-se mais ligadas com a escola e confiam mais no processo de aprendizagem”, considera Evelina Necula. “Sentem-se mais confiantes e motivadas para contribuir para essa aprendizagem.”
Esse envolvimento da família na escola é fundamental para o sucesso escolar da criança, segundo investigações realizadas pela Carnegie New York Foundation. “É uma das intervenções mais baratas, rápidas e eficazes para melhorar a educação”, diz Evelina Necula.
A escola em que o professor surge à frente dos alunos como o detentor do conhecimento está a mudar
Para crianças mais velhas, a plataforma permite um contacto direto com o professor ao qual podem enviar projetos pedidos e colocar dúvidas. A plataforma pode ajudá-los a gerir o calendário semanal. “Os alunos ficam mais cientes do seu papel na escola e tornam-se mais autónomos e responsáveis”, assegura Evelina Necula.
O trabalho dos professores também é facilitado, garante a criadora. “Podem introduzir na plataforma as observações feitas na sala de aula de cada aluno, os resultados de testes e os objetivos alcançados. A app faz um relatório que permite ao professor desenvolver um plano de estudo personalizado”, explica.
Inteligência Artificial na escola
As últimas versões da plataforma incluem a Inteligência Artificial (IA). “Quando se verifica que uma criança está atrasada na aquisição de conhecimentos, a IA faz sugestões ao professor em termos de projetos, atividades ou fichas, que podem beneficiar o aluno.”
A tecnologia não assusta Evelina Necula. “A escola do futuro inclui professores porque as nossas crianças precisam de interagir com humanos para serem humanos. Mas os professores já não são os detentores de todo o conhecimento. São conselheiros, animadores, mediadores que guiam as crianças no seu trajeto”, considera. “A criança será protagonista da sua própria educação e vários mediadores ajudarão a ligá-las com uma diversidade de oportunidades de aprendizagem.”
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