“Sexo a dois ou em grupo só na zona seca”: Sauna em Lisboa garante ser “a mais exclusiva” do País – Domingo
Elite completamente nua, ou a conviver só de toalha, numa cave no centro de Lisboa, onde quem paga para entrar pode ter sexo seguro sem que dele fique rasto – é proibido o uso de telemóvel e regra de ouro guardar segredo sobre tudo o que ali se passa.
É este verdadeiro pacto de silêncio, obrigatório entre os clientes e que é seguido à risca pela gerência, que atrai a classe alta à Apolo 56. Uma versão melhorada das saunas gay, que se diz amiga dos heterossexuais e de todos os géneros de A a Z, e que não perde em clientela rica para a Avenida da Liberdade, ali ao lado.
Liberais na cama, gente educada e de nível, que não olha a gastos. “Somos a sauna mais exclusiva de Portugal. Não quero que estejam aqui mais do que 12 clientes ao mesmo tempo, é o máximo para que tenhamos um bom serviço, um serviço de excelência. Há diversão, mas num ambiente muito selecionado. E temos público que gosta bastante deste conceito, mais elitista. Temos clientela portuguesa e estrangeira, sobretudo acima dos 28 anos e até aos 60. De pessoas que têm microempresas a pessoas que têm profissões liberais e, claro, outras que têm maior exposição pública. São da classe média-alta e alta, e sabem que aqui existe higiene, sigilo e discrição”, assegura à Domingo Alexandra Pais de Sousa, dona da casa que impõe regras apertadas de segurança: “sexo a dois ou em grupo só na zona seca”, fora do jacúzi, do banho turco e da sauna.
Os leds azuis e vermelhos saltam à vista num espaço que, sob luz branca, parece apenas mais um balneário. Mulheres e homens têm o mesmo protagonismo e muitos escolhem ir em casal. “Nós temos casais de diferentes orientações sexuais. Não somos um clube de ‘swing’, mas quem faz a casa são os clientes. E se o quiserem praticar estão, naturalmente, à vontade. Mas os nossos clientes são um pouco mais reservados. Vêm aqui para apimentar a relação, gostam de ver e de ser vistos, dar uma ‘pimentinha’. Muitas vezes, não gostam sequer de ser tocados”, conta Kiki, como há muito é conhecida a proprietária.
Para os cientistas do sexo não há, à partida, grandes contraindicações. “Só podemos considerar que existe uma perturbação quando este comportamento é exclusivo, ou seja, se só conseguir ter prazer sexual se estiver a ver outras pessoas a ter sexo, no caso de voyeurismo, e isso causa acentuado mal-estar”, explica o sexólogo Fernando Mesquita. O especialista alerta que, nestes como noutros casos, a grande dificuldade é comunicar, “é o casal não falar daquilo que se sente seguro a realizar antes de entrar neste tipo de comportamentos, daquilo que é o seu limite, daquilo que é permitido fazer”.
Máscara e semáforo
Na Apolo 56, a maioria dos clientes é tímida – “muitos deles ainda estão dentro do armário” – e quem não tem coragem de mostrar a cara pode recolher uma máscara para entrar. À disposição têm ainda pulseiras coloridas, um género de semáforo que diz ao outro quando e se pode ou não avançar, do que anda à procura, se é ativo ou passivo.
“Sexo a dois ou em grupo só na zona seca”: Espaço em Lisboa garante ser “a sauna mais exclusiva de Portugal”
“Infelizmente, há quem pense que para a diversão vale tudo. No meu entendimento, tem de haver normas, para que todas as pessoas possam conviver de uma forma agradável e não haja atropelos. Nós aqui temos regras, que fazemos questão que sejam cumpridas. E uma das regras é que as pessoas não podem fumar ou consumir substâncias ilícitas. E somente na receção e no balneário é que os clientes poderão usar os telemóveis, dentro da sauna é totalmente proibido, para salvaguardar a identidade e a privacidade de todos os clientes, que querem que assim seja”, esclarece Alexandra Pais de Sousa.
O especialista ouvido pela ‘Domingo’ diz que nem poderia ser de outra forma. “Algumas pessoas gostam de filmar e exibir os seus momentos de intimidade com outras pessoas, mas nem todos se sentem confortáveis com isso. E quando estamos num espaço deste tipo não sabemos qual é o limite da outra pessoa. Para não criar confusões, e para que possam estar mais desinibidos e soltos, a proibição de determinados comportamentos, como o de usar o telemóvel, é importante e deve ser cumprida à risca”, avisa Fernando Mesquita.
Neste spa não há oferta de serviços sexuais ou qualquer obrigação da gerência de dispor de pessoas para o convívio. Há massagens em gabinetes privados, por marcação, com profissionais externos à casa e com quem o final feliz de cada sessão depende de mútuo acordo. “Entre os dois, eles é que saberão”, frisa a dona da Apolo 56, que dá conta da última moda neste campo: “As tântricas estão agora muito em voga.” “É uma ideia que muitas pessoas têm. Quando falamos de sexo tântrico temos de falar não só de sexo, como também de uma forma de viver. A ideia-base é procurar prazer, chegar ao orgasmo, sem que exista ejaculação, no caso do homem. Porque quando existe ejaculação existe perda de energia. E é importante desmistificar uma ideia: é mesmo possível o homem ter orgasmo sem que exista ejaculação, e também é mesmo possível que um homem ejacule sem que tenha orgasmo”, explica Mesquita.
Baloiço fetichista
O spa de Alexandra – onde há sempre preservativos prontos a serem usados – abre portas todos os dias, às primeiras horas da tarde. Quem chega troca a roupa da rua por uma toalha e um par de chinelos descartáveis, troca a cadeira do escritório por um baloiço fetichista (de cabedal, preso por correntes, para sexo acima do chão) e as paredes de casa pelas grades de uma jaula. Antes de descer as escadas para esta cave de prazer, paga à cabeça, ainda na receção. Uma butique com preço de boteco. “Em determinados dias e horários, para ficar até duas horas, paga 20 euros. O preço normal é de 40 euros, pelo período de até 8 horas. Depois temos valores sob consulta, para clientes que querem organizar eventos aqui”, diz Kiki. Sim, porque é possível fechar o espaço, de 330 metros quadrados e com sala de cinema pornográfico para festas privadas, de aniversário, despedidas de solteiro e “confraternizações”. Barulho apenas dentro de portas — da rua nada se ouve.
A zona tem histórico no mundo da prostituição de travestis e transexuais. “Aqui, sempre fui muito bem acolhida, pelos vizinhos e pelos comerciantes com estabelecimentos nas redondezas. Nunca tive qualquer problema, até porque sou muito cautelosa na questão do ruído e não permito que nada seja passado para o exterior. Tudo o que se passa é da porta para dentro, e da porta para fora temos de ter o máximo de civilidade e civismo”, garante a proprietária, para quem a abertura do espaço, em 2011, foi um marco na carreira de empresária e de afirmação. “Deu-me força, coragem e determinação para iniciar o meu processo de mudança de género e, depois, de sexo [em 2015]. Afinal, tudo o que eu pensava que poderia ser um entrave não o era.” Kiki, hoje com 58 anos, uma mulher vistosa e que arranjou o cabelo para receber a ‘Domingo’, é Alexandra Paulo. “Não consegui desfazer-me do meu primeiro nome”, revela.
Vaticano dividiu prédio com sauna gay
Documentos secretos revelados em 2013, na sequência do escândalo Vatileaks, indicam que o Vaticano gastou 20 milhões de euros em 20 apartamentos, em Roma, para a Congregação para a Evangelização dos Povos, no prédio onde afinal estava o Europa Multiclub, a maior sauna gay da Europa – e que fechou portas entretanto. Apesar de tudo longe da dimensão do Chilli (antigo 269 Chilli Pepper), em São Paulo, no Brasil, que pode receber até 450 pessoas e se apresenta como o “maior e melhor hotel só para homens cis [com identidade de género idêntica ao sexo de nascença] e trans [que não se identificam com o sexo com que nasceram] da América Latina”.
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