Será a primeira vez que navios desse tipo chegarão à região. Isso reduzirá o tempo de viagem marítima Ásia-América do Sul de 45 para 22 dias. Será o maior porto da América Latina e o terceiro maior do mundo no médio prazo, depois de Xangai e Singapura. A sua inauguração será em novembro de 2024, com a presença de Xi Jinping.
O Brasil e o trem bioceânico
O Brasil, diante da iminente entrada em operação do porto de Chancay, com características de um magnífico hub logístico, teria retomado a ideia de construir o trem bioceânico que ligaria seus principais portos do Atlântico ao Pacífico, buscando uma nova porta de entrada para o mercado asiático, com grandes impactos favoráveis tanto para a economia brasileira quanto para a peruana.
Seria a realização de um sonho em toda a região. Seriam beneficiados diretamente os estados de São Paulo, Mato Grosso, Acre, Rondônia e Amazonas no Brasil, as regiões norte e central da Bolívia e todo o território do Peru.
O Brasil praticamente consolidou a malha ferroviária necessária para o projeto, faltando apenas o trecho que o ligaria à Hidrelétrica via Paraguai-Paraná. A Bolívia se comprometeu a cumprir seus compromissos nesse âmbito até 2025. O Peru, além do porto de Chancay, tem em operação seu trem para as montanhas centrais. Faltariam obras para conectar Chancay com a estrutura rodoviária e ferroviária do país, além da ligação com as regiões da Selva Amazônica peruana e brasileira. A integração das cadeias logísticas é uma condição fundamental para o ótimo funcionamento de Chancay.
O trem bioceânico tem como precedente um pedido feito à China pelo então presidente boliviano Evo Morales, em 2013. De lá para cá, diversas alternativas foram consideradas e descartadas uma após a outra, por questões de viabilidade e de sustentabilidade. Foi apenas em janeiro de 2023 que os presidentes da Bolívia, Luis Arce, e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, concordaram em retomar a ideia de construção do Corredor Ferroviário Bioceânico.
Com a implantação de Chancay, esse projeto volta a ganhar força. O porto se tornaria a principal conexão entre o mercado asiático e a América do Sul e Central, com sistemas de cabotagem tendo Xangai como destino final. A interligação dos projetos de Chancay e do trem bioceânico marcará um marco transcendental na melhoria da conectividade e do sistema de transporte de cargas e de passageiros, transformando o Peru em um ator estratégico no comércio internacional, especialmente sendo uma parte importante do sistema de Cinturão e Nova Rota desenvolvido pela China.
Desconforto geopolítico
Na lógica da geopolítica, a pergunta que os peruanos deveriam se fazer é: quanta soberania marítima e territorial estariam cedendo aos chineses para construir e operar o porto de Chancay? Pergunta urgente, que as autoridades peruanas deverão responder com entusiasmo e maturidade.
Por sua vez, o Chile considera o porto de Chancay “uma ameaça” e, como recordaram as suas autoridades, queriam um porto semelhante na Terra do Fogo e atuaram para fazer esse projeto avançar. Mas, pelo menos por enquanto, não tiveram sucesso. Historicamente, o Chile foi referência em geopolítica regional. Na atualidade, com o porto de Chancay, esta capacidade pode estar ameaçada.
Ainda assim, é muito maior o desconforto que Chancay causa aos Estados Unidos e aos seus aliados na Europa. De acordo com altas autoridades norte-americanas, a presença crescente da China na região poderia levar o país a perder influência sobre os territórios que acreditavam estar sob seu controle.
Desta forma, a disputa pela hegemonia mundial entre a China e os Estados Unidos entra em um novo cenário, com interesses e atores específicos. Esta disputa poderá, em situações críticas, ter repercussões importantes, não só no porto de Chancay, mas em toda a sua área de influência.
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