Se a crise convulsiva ocorre acontece de maneira isolada, menos mal. “Mas o cérebro de um recém-nascido em uma situação dessas pode ter uma convulsão atrás de outra durante seis, doze, 24 horas sem parar”, relata o doutor Variane. Não há cabeça que aguente, muito menos a de uma criaturinha no berço. “Isso provoca danos adicionais, aumentando o risco de sequelas neurológicas permanentes.”
É que, durante a crise, a demanda metabólica dos neurônios fica enorme. E, com ela lá nas alturas e oxigênio lá embaixo, essas células nervosas entram em parafuso. Até que sucumbem.
Você pode imaginar — como eu mesma imaginei — que, com uma equipe especializada a postos, bastaria dar um anticonvulsivo ao pequeno. O nome do medicamento já descreve o que ele faz: diminui o número, a intensidade e a duração das crises convulsivas. Mas aqui temos dois problemas.
O primeiro deles, ao qual Variane se sensibilizou lá pelo ano de 2015, é que não existe UTI neurológica para recém-nascidos em todo canto, com equipe treinada e os equipamentos necessários. E, para complicar um bocado mais, não dá para o médico bater os olhos no bebê e afirmar que ele está tendo uma convulsão naquele instante. Enquanto os neurônios sofrem curto circuitos, o recém-nascido pode aparentar estar de boa, sem piscar os olhos, nem mexer um único dedo.
“Por outro lado, quando crianças muito pequenas estão doentes, eles costumam fazer movimentos inespecíficos que as pessoas confundem com sinais de crise convulsiva”, conta o neonatologista. Desse modo, os médicos podem prescrever anticonvulsionantes para quem não precisa, o que tampouco faz bem.
“A única saída para acabar com esse tipo de confusão e flagrar crises convulsivas imperceptíveis a tempo de evitar maiores danos é monitorar esses bebês 24 horas por dia, 7 dias por semana”, nota Variane. E foi pensando nisso que, ao lado do também neonatologista Alexandre Netto, ele criou a PBSF (sigla do inglês para “protegendo cérebros e salvando futuros”), organização que já implantou uma estratégia de saúde digital em 45 hospitais dentro e fora do Brasil para reduzir as sequelas neurológicas em recém-nascidos de alto risco.
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