um ano de impunidade, caos e corrupção

4. A crise da democracia e da institucionalidade está se aproximando de um processo de decomposição aparentemente insuperável. Nunca antes o poder legislativo teve níveis tão vergonhosamente altos de desaprovação pública (93%), o poder executivo (88%), o Tribunal Constitucional (80%), a Defensoria Pública (82%), etc. Esses indicadores revelam o grau de descrédito e deslegitimação das autoridades públicas nas mãos dos setores de ultradireita do país que, depois de muitos anos, contam com o apoio das Forças Armadas, que se tornaram um suporte para a destruição da democracia e das instituições. Esse é o custo de ter um governo de quem não venceu as eleições, mas tomou o poder por meio de “golpes brandos” ao longo do ano de 2023. Neste momento, o Congresso, em uma atitude absolutamente ditatorial, está prestes a derrubar o Conselho Nacional de Justiça, um órgão autônomo e independente encarregado de nomear, avaliar, ratificar e sancionar juízes e promotores, entre outros. Nessa condição, submeteu a Procuradora Geral da República a uma investigação e decidiu suspendê-la por seis meses, fato que é inadmissível para o Congresso porque traria à tona as formas, procedimentos, custos e negociações que fluíram entre a Procuradoria Geral da República e os 40 congressistas que se tornaram seus vassalos.

5. Isolamento internacional como consequência de ações antidemocráticas recorrentes, conduta distante da diplomacia internacional e quebra de compromissos assumidos pelo Peru no âmbito do direito internacional.  É o caso da libertação abrupta, sem qualquer razão válida, de Alberto Fujimori, preso por crimes de corrupção e crimes contra a humanidade devidamente comprovados por órgãos judiciais nacionais e internacionais. Ou o caso da morte de mais de 70 peruanos nos protestos populares, que foi condenada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, sem qualquer resposta do Estado. O alinhamento servil com os Estados Unidos, em vez de favorecer a gestão de Boluarte, demonstrou uma enorme miopia em relação ao ambiente internacional e uma rendição inédita em três ou quatro décadas. Colocou por terra o prestígio de longa data da Torre Tagle (sede do Ministério de Relações Exteriores do Peru). Nem mesmo a estridência com que defendem o modelo neoliberal impediu esse isolamento.

6. Mercenarização e “cicarização” da “grande imprensa”. Muitos dos meios de comunicação de massa, jornais, rádio e televisão, “não viram os massacres”, ou esconderam a verdade dos fatos, chegando a dizer, cinicamente, que os crimes foram resultado de “acerto de contas” entre os “próprios manifestantes”. A incapacidade da “grande mídia” de ver e ouvir ainda está em pleno vigor, mesmo em casos como o da Procuradoria Geral da República.  Por trás desse comportamento mercenário da imprensa estão, sem dúvida, os interesses econômicos e financeiros que se beneficiam da crise econômica e política.  A “diversidade” da mídia de massa não é coincidência, é a necessidade de aparentar “pluralismo” enquanto defendem, “competindo” uns com os outros, seus verdadeiros patrões ou patronos localizados nas grandes empresas e nos bancos nacionais e internacionais. Eles têm a “honrosa” tarefa de “defender” o amigo do regime e “criticar” aqueles que são incômodos, a ponto de destruí-los.

7. Caos e desgoverno. Com a queda da Procuradora Geral da Nação, um ciclo de desgoverno chegou ao fim e outro está prestes a começar. As forças de ultradireita que concentram o poder colocaram suas barbas de molho. O legislativo está se reagrupando e moderando suas “contradições internas” a fim de “negociar melhor” suas chances de permanecer com o executivo até 2026. Ambos os poderes sabem que dependem um do outro, independentemente do papel que atribuem um ao outro.  Por enquanto, é o Poder Legislativo quem tem as cartas, com uma maioria obscura construída com base em negociações e trocas de interesses e tráfico de influência. Enquanto isso, o Tribunal Constitucional, também sujeito ao Congresso, bem como a Defensoria Pública, continuarão a prestar seus “importantes serviços” à ditadura parlamentar, com apoio militar. 

8. Instabilidade política e desconfiança. Enquanto o Legislativo legisla para ficar até 2026, o Executivo mostra seu melhor perfil de desgoverno no congelamento de todos os tipos de políticas públicas que beneficiam a população, que busca uma reativação razoável. Não só perderam a confiança dos investidores, como também transformaram o Estado em um verdadeiro espólio tomado por quadrilhas organizadas que se autodenominam partidos políticos, representando as mais diversas facções da ultradireita. O clima de desconfiança não é resultado dos protestos populares, como o governo quer nos fazer crer, pois apesar da grande desaprovação do executivo e do legislativo, as passeatas foram relativamente fracas e surpreendentemente “pacíficas”, o que mostra a eficácia da ameaça de processos e prisões efetivas para aqueles que ” atentam contra a democracia e suas instituições”.  Ou seja, o governo


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