Dados científicos apontam que a Ribeira de Cuba, situada na Serra da Malagueta, no interior de Santiago, conta com uma população estimada em mais de 100 pés deste vegetal “do género Sideroxylon, da espécie marginatum”, natureza endémica de Cabo Verde e que pode ser encontrada nas ilhas de Santiago, Santo Antão, São Nicolau e Fogo num universo de aproximadamente 1.500 pés.
A vegetação referida é considerada uma espécie endémica deste arquipélago e, ao mesmo tempo emblemática do País, pelo que está a ser alvo de um estudo científico que já considerou que a ilha de Santiago cultiva mais de 50% (por cento) desta espécie em Cabo Verde, com mais de 850 pés identificados.
Cientificamente, a ilha de Santo Antão se segue actualmente com 261 pés de marmulano inventariados, seguidos da ilha do Fogo, com 241, e de São Nicolau com 41 pés identificadas.
Segundo este investigador do Instituto Nacional de Investigação e Desenvolvimento Agrário (INIDA), onde trabalha desde 1989, este arbório é sobretudo refugiado nos rochedos, mas pode-se também desenvolver-se em formas de rebentos, mas a sua localização está a tornar-se cada vez mais difícil.
Nesta perspectiva, Isildo Gomes considerou imprescindível envolver a população local nos trabalhos de identificação e preservação, ainda que hoje em dia, dadas as novas tecnologias, se torne possível recorrer aos uso dos drones para uma melhor identificação, visando a criação de uma lista vermelha destas espécies.
“Esta espécie foi utilizada no passado, tanto para a produção de madeira, lenha e carvão, assim como uma planta medicinal, tendo sido, em tempos outros, muito aproveitado para remédios de terra. A sua folha é aproveitada como gesso caseiro para cicatrizar fracturas e remédio contra tonturas, mas também como pasto, nos campos, para os animais”, explicou.
Também docente na Universidade de Cabo Verde desde 1994, Isildo Gomes, que se define como “um homem apaixonado pela profissão e pela natureza”, mostra-se empenhado na criação desta equipa, que já tem algumas antenas em outros pontos da ilha, focada em sensibilizar a população para a monitorização desta planta, visando a sua preservação, enquanto espécie endémica.
Referenciado como um vegetal do género Sideroxylon, da família Sapotaceae, o marmulano é espécie endémica das ilhas da Madeira, das Canárias e de Cabo Verde, tem como nome científico Sideroxylon marginata.
Defensor do lema “a Ciência faz-se caminhando”, este decano dos biólogos cabo-verdianos, exorta o País no sentido de incentivarem os jovens, salientando que tem já desenvolvido um projecto envolvendo jovens nas diversas ilhas, para esta investigação, num trabalho conjunto com as ONG no mapeamento, visando dar respostas aos desafios identificados.
Já numa visita à Serra da Malagueta, a população contactada mostrou-se conhecedora dos efeitos medicinais do marmulano, salientando que a espécie continua a ser procurada para a medicina caseira, mas que de há uns anos a esta parte deixou de ser utilizada como combustíveis para os tradicionais fogões, para evitar a sua extinção.
Esta opinião é corroborada por Clara Sancha, mais conhecida por “Xica”, 67 anos, vendedeira de chás tradicionais e residente em São
Jorge dos Órgãos, para quem, o marmulano “é visto como uma planta medicinal, natural, com múltiplas variedades, melhor que muitos dos químicos que a gente compra nas farmácias”.
Já Paulo Lopes, 21 anos, disse que conhece bem o marmulano, que o próprio pai já foi recuperado quando padecia de dores no corpo, e que tem conhecimento que algumas pessoas tentam desfazer-se dessas espécies, para a criação de espaços para construção das suas habitações, mas que pessoalmente está sensibilizado em como se trata de uma flora endémica.
Cabo Verde, segundo este especialista, tem um registo de 87 plantas endémicas, aos quais se juntam a 11 subespécies, perfazendo um total de 98 taxas neste arquipélago endemismo, e que resistiram sucessivos ciclos de secas e ambientes hostis.
Esta reportagem foi realizada no quadro de uma formação “Terra África” sobre Ciências Climáticas e Ambientais, coordenada pela cientista Patrícia Rendall.
Inforpress
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