Desafios e representatividade: ator de ‘DNA do Crime’ fala sobre bastidores de obra que retrata mega-assalto no Paraguai | Sorocaba e Jundiaí
Mesmo com diversos desafios enfrentados ao longo da filmagem, o sentimento de alegria e realização tomou conta de Adalberto Fernando de Lima, de 38 anos. O morador de Jundiaí (SP) fez sua estreia como ator na série “DNA do Crime”, lançada em novembro na plataforma de streaming Netflix.
“Eu conhecia o responsável por escalar o elenco da série e ele me perguntou se eu queria fazer testes. Não acreditei que seria possível passar, parecia algo muito distante. Quando fui aceito, falei para um amigo meu: ‘uma semana atrás eu estava em casa assistindo TV, agora eu serei assistido lá'”, afirma.
A trama retrata uma história real e mostra o trabalho de agentes federais para desvendar um grande assalto que ocorreu na fronteira entre o Brasil e o Paraguai e resultou em um roubo de mais de R$ 40 milhões.
No papel do personagem “Gordinho”, um dos criminosos que participa do assalto, Adalberto conta que se dedicou por cerca de um ano nas gravações da série. Trabalhou em sets em Foz do Iguaçu, em Jaguariúna e em São Paulo e passou por várias “provações” ao longo das gravações, incluindo até a interpretação de uma morte e cenas violentas.
Morador de Jundiaí que atuou em série policial mostra bastidores das gravações
“Teve uma cena que foi a mais complicada de fazer. Foi o momento em que o personagem agredia o gerente do banco onde acontecia o assalto. Eu não sabia ser agressivo como a cena exigia. O ator que fazia o papel do gerente, que já era mais experiente em cena, até conversou comigo, me disse que eu podia agir daquela forma, pois a cena pedia. Foi difícil, mas a cena foi muito elogiada”, lembra.
Foram cinco testes até o rapaz ser escolhido para o papel. Adalberto conta que o responsável pelo convite falou, inclusive, sobre a vivência dele como homem negro e que isso o ajudaria a dar mais realidade à história do personagem.
“Ele me fez refletir que eu, enquanto homem negro e de família humilde, tinha vivido situações de injustiça, preconceito e que muitas vezes aquilo era ‘engolido’ por pessoas como eu para que diminuir o sofrimento. E então, me disse que eu deveria usar isso para sentir os dilemas do meu personagem. Adaptei muito do roteiro a partir das minhas vivências”, diz.
‘A sétima arte também é pra nós’
Além da oportunidade de ter o trabalho reconhecido, para Adalberto, a participação em uma série de TV serve para incentivar jovens negros e da periferia.
“Quero inspirar a ‘molecada’ nova, jovens negros, da periferia, mostrar que a gente também tem capacidade de chegar lá. Que a sétima arte também é pra nós,” afirma.
“A turma me para na rua e me pergunta ‘como eu faço pra ser ator também?’, aí eu explico que não é uma receita pronta, que precisa de dedicação e estudo.”, conta.
Dedicação aos estudos que ele mesmo pretende continuar tendo para continuar no ramo da atuação e ter a chance de interpretar outros papéis e mostrar que pessoas negras podem ser personagens de destaque e com histórias positivas.
“Quero interpretar pessoas inspiradoras também, um executivo musical, um artista. Se fosse citar pessoas, diria o Jamelão, que foi um sambista da Mangueira e é alguém que me inspira muito.”, diz.
Adalberto nasceu em Juiz de Fora (MG), mas mora em Jundiaí há 18 anos. Ele se mudou para a cidade por influência da mãe, Ana Lima, que decidiu morar no interior de São Paulo.
Apesar de estar sendo reconhecido na cidade pela atuação na televisão, Adalberto rodou um longo caminho nos bastidores do mundo do entretenimento antes de chegar às telas. Logo que se mudou para o interior, Adalberto diz que se encantou com as chamadas “baladas blacks”, que promovia o lazer para jovens negros e periféricos e reunia o movimento negro da cidade.
“Eu trabalho com produção de eventos desde a adolescência, porque é algo que minha mãe já trabalhava. Aí, quando vim morar em Jundiaí, conheci os organizadores dessas baladas e me aproximei de um grupo de rap da cidade, o grupo Produção 288. Com isso, as oportunidades na área de eventos foram surgindo. Fui apreendendo no dia a dia”, relembra.
Na produção de eventos de rap, Adalberto diz que trabalhou com artistas conhecidos nacionalmente, além de fazer contato com produtores destes grandes artistas, como é o caso de Black Blue, que trabalhou na produção de palco da banda Racionais MC’s.
“O Black Blue me deu conselhos sobre o mundo artístico. Posso dizer que foi ele que deu o ‘start’ para que eu começasse minha carreira de fato.”, conta.
Além dos eventos, Adalberto teve a ideia de criar um programa de rap para ser apresentado em uma rádio de Jundiaí. O programa foi ao ar de 2019 a 2023, apresentado e roteirizado por ele.
Mas Adalberto não quis depositar todas as esperanças no ramo artístico e optou por fazer cursos em outras áreas. Se formou em logística e trabalhou alguns anos no ramo. Porém, sentiu que o entretenimento o chamava de volta. Foi então que ele decidiu fazer o curso de eventos, pela Fatec de Jundiaí.
A série, que tem oito episódios, foi criada pelo cineasta Heitor Dhalia, e conta com a produção e atuação de Maeve Jinkings, Rômulo Braga, Thomás Aquino e Pedro Caetano. Parte das gravações foi feita em Foz do Iguaçu. O crime que inspirou a série contou com mais 40 assaltantes e resultou num roubo de mais de R$ 40 milhões.
Segundo a Netflix, DNA do Crime é a primeira série policial brasileira do streaming. O título está entre os mais vistos no Brasil e em outros países.
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