Brinquedos tradicionais em Cabo Verde

A azafama para adquirir um presente, para um adulto ou um brinquedo para uma criança, é notória e precipita aquilo que poderíamos denominar do “gasto extra de dezembro”, fruto de um longo período de 12 meses de poupanças feitas especificamente para este fim.

Hoje, a realidade do mercado de procura e oferta de brinquedos em Cabo Verde é bastante diversificado.  Há uma variedade infinita de lojas e produtos para todos os gostos e bolsos, que muitas vezes, para os menos atentos ou os desconhecedores da realidade histórica e social do país, pode parecer que sempre foi fácil ter um brinquedo nas épocas festivas.

 A etnografia cabo-verdiana, ao longos dos tempos fora enriquecida com elementos simbólicos e de utilidade prática, muito por força da abertura e relação histórica que sempre tivemos com o mundo, desde da época do povoamento até hoje.

No que concerne a prática de jogos, brinquedos e brincadeiras tradicionais, a sua prática e efetividade nas ilhas remonta aos primórdios do povoamento, pois as pessoas que foram trazidas para as ilhas, independentemente da sua condição social, trouxe consigo as suas práticas, que poderiam ou ser serem executadas.

A riqueza e variedade dos jogos e brinquedos tradicionais é notória e espelha toda a mescla e fusão cultural que houve nas ilhas, da qual somos o resultado em construção constante.

É quase impossível definir claramente o que é o jogo ou a brincadeira tradicional específica do país, pois em tudo está presente traços europeus e africanos bastante enraizados. Apesar desta indefinição, não se pode negar que temos um legado de brinquedos bastante rico e variado, que vai desde carros de lata, o arco, bolas de berlindes, bonecas de trapo, bolas de meia e de bexigas de porco, o jogo da malha ou da macaca, corrida de saco, as trebas, o jogo de oril, entre outros.

Certo é que em tempos de festa e numa quadra especial onde gravita o amor e a vontade de oferecer presentes, olhamos para o passado, não muito distante onde para se ter um brinquedo tradicional, as nossas localidades eram prenhes de mestres artífices e artesões que, com o que lhe estava a mão, produzia os mais variados e modernos brinquedos da época.

O processo de fabrico dos brinquedos era/é assente no conceito de reciclagem e reutilização do que estava disponível no ambiente. A partir das latas de leite condensado ou de azeite, fabricavam-se os carros de lata, do arco do tambor metálico, fazia-se o arco que percorriam os caminhos e veredas do mundo rural e urbano, da cana de cariço ou bambu, nasciam as trebas, de uma dezena de tampas de garrafas de cerveja, um prego e um pedaço de madeira, nasciam os chocalhos. De um pedaço de caixa de fósforo e de alguns paus de fósforo, nasciam as famosas bombinhas e de uma bexiga de porco, nascia uma bola de futebol.

Eram estes os principais brinquedos que se utilizavam num passado não muito distante, onde a alegria das crianças era feita com a criatividade dos mestres locais e, muitas vezes toda a comunidade deliciava com os ajuntamentos de jovens e crianças, que se juntavam no entardecer para cantar as boas festas e desfilarem seus brinquedos, bem como praticarem jogos e joguetes próprios da época natalícia.

Hoje em dia, poderia aqui citar a título de exemplo, o trabalho de produção de carros de lata e outros brinquedos que um grupo de jovens da localidade de Espongeiro em Santo Antão tem levado a cado. Da mesma forma, poderia fazer referência à perícia do artesão no Parque 5 de julho na Praia, que tem dedicado o seu tempo a fazer brinquedos esplêndidos, de gostos e a preços variados, que a meu ver, seriam os presentes ideias a serem oferecidos nesta quadra natalícia, tanto pelo design e qualidade, assim como pelo incentivo a sua prática e utilização, por forma a evitar o seu esquecimento.

Certo é que a produção dos brinquedos tradicionais específica para a época natalícia é muito restrita e o preço para aquisição, é na maior parte das vezes proibitivo para os bolsos dos nacionais, pelo que é importante repensar políticas para oficinas de ensino e reprodução para evitar o desaparecimento das práticas de produção e de execução/utilização dos mesmos.

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