Luxemburgo: Filha de imigrantes quer aumentar consciencialização sobre identidade africana através de iniciativas literárias e de velas de memória olfativa

Apaixonada por velas, a mentora do projeto Rabskadu diz que teve uma primeira experiência em 2020 com a produção de velas em Cabo Verde, em potes de barro de São Domingos (Santiago). De regresso ao Luxemburgo lançou a marca de velas aromáticas Rabskadu sendo a primeira coleção Origem, baseada na obra de A Imagem do Cabo-verdiano nos Textos Portugueses, editada pela livraria Pedro Cardoso, onde cada vela tem o nome de um povo que deu origem ao povo cabo-verdiano, nomeadamente Wolof, Mandinga, Felupe, Papel, Fula, Balanta e Bijago, e um aroma específico.

“A ideia é transmitir a mensagem de onde viemos”, explica Jael em entrevista e acrescenta: “No Luxemburgo temos esta lacuna, quem cresceu e nasceu cá não tem acesso a essa informação sobre coisas relacionadas com Cabo Verde. No entanto, em Cabo Verde também não se fala tanto da história do continente africano (…)”.

Preocupada com temas como a ancestralidade e a identidade, Jael destaca que o seu ativismo acontece de várias formas, nomeadamente através de uma página dedicada à literatura cabo-verdiana – Nha Kantinhu. Depois de uma visita a Cabo Verde em 2020, levou consigo para o Luxemburgo livros da livraria Pedro Cardoso, mas logo deparou-se com uma barreira – a língua. “Nós (no Luxemburgo) não aprendemos o português então para estes casos fiz uma parceria com uma livraria panafricanista em Paris que tem livros em francês”.

A iniciativa Rabskadu acaba por ter também esta vertente ativista já que permite transmitir conhecimento sobre as raízes ancestrais africanas porque cada coleção tem uma ligação ou com Cabo Verde ou com o continente africano.

Já o nome, segundo uma publicação da página das velas no Instagram, “a palavra “Rabuskado” significa em português “Pesquisado”. Após passarmos muito tempo a Pesquisar as nossas origens chegamos à Terra Mãe África. Cabo Verde pela sua história é uma mistura e amostra do nosso continente. Isso não somente a nível humano, mas a nível dos recursos encontrados na natureza em Cabo Verde. Os nossos produtos retratam o nosso trabalho”.

Feitas à base de óleo de coco, apesar de os produtos das velas não serem de Cabo Verde, ao menos que a mensagem partilhada é sobre a história de Cabo Verde e de África diz a mentora.

As coleções são variadas: uma dedicada às ilhas de Cabo Verde, outra dedicada à saúde mental, com aromas que aumentam a concentração, mais uma dedicada às origens e dedicada às Rainhas Africanas, entre outras.

Além de comercializar online também vende em duas lojas no Luxemburgo e em França, tanto em Nice, como em Paris, bem como em feiras de livros.

Questionada sobre o seu público-alvo, Jael diz que é variado e que depende de cada coleção.

O objetivo das duas iniciativas é partilhar a mensagem sobre Cabo Verde que é o que também faz no canal que tem no Youtube – o Destampando Segredos.

Já a iniciativa Nha Kantinu surgiu com a ideia de divulgar autores e livros de Cabo Verde, bem como com o propósito de quebrar o estereótipo de que o cabo-verdiano não lê. “O cabo-verdiano lê, mas temos de adaptar a mensagem ao leitor (…) Fiz uma feira do livro para mostrar que há pessoas que querem comprar e ler”.

Neste sentido, durante o verão Jael realizou algumas feiras do livro no Luxemburgo, onde convidou com autores cabo-verdianos e estabeleceu uma parceria com a embaixada de Cabo Verde no Luxemburgo.

A jovem diz que ter um espaço próprio com livros de e sobre Cabo Verde seria um sonho realizado.

De enfermeira a comunicadora

Enfermeira de formação, Jael fez recentemente uma pausa na carreira na área da saúde para explorar outras áreas. “Já estive no Youtube, já fiz televisão (…) depois fiz um programa de rádio, Morabeza, para a comunidade cabo-verdiana numa estação portuguesa”.

Filha de pai cabo-verdiano, natural da cidade Praia, Jael conta que cresceu com a música e gastronomia cabo-verdianas em casa. Começou a falar a língua cabo-verdiana mesmo aos 15 anos mas já tinha visitado o arquipélago pela primeira vez com quatro e depois regressou aos 14 anos.

Já com mais idade decidiu continuar a visitar o país das suas origens por iniciativa própria e acabou por conhecer outras ilhas além de Santiago, como o Maio, Sal e Boa Vista.

Jael também se dedica a causas sociais, tanto em Cabo Verde como no Luxemburgo.

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