Decorreu nas instalações do Núcleo Sportinguista da cidade da Covilhã a Tertúlia dos Ex-Combatentes, comemorativa do 12.º aniversário da sua fundação, com a presença de mais de cem elementos. Isto porque há doze anos um grupo de ex-combatentes do Ultramar – João Romano e João Azevedo da Covilhã e José António Amaral Patrício e Virgílio Domingos dos Santos do Fundão –, a convite de Francisco Pereira Nina, deslocaram-se a Matosinhos para tomar conhecimento de como funcionava uma tertúlia militar.
Durante o ano decorrem, de norte a sul do país, com extensão aos Açores e Madeira, inúmeros encontros, convívios, tertúlias de ex-Combatentes do Ultramar, conjuntamente com as suas famílias e amigos.
Seguiram-se mais alguns encontros na Covilhã e no Fundão e constituiu-se a Tertúlia de Ex-Combatentes, de são convívio e de apoio a ex-Combatentes pobres e necessitados nas mais diversas áreas: alimentação, saúde, acompanhamento psicológico.
Tem uma realização mensal e já vai na 135.ª reunião tendo como convidados diversos personalidades, que falam sobre diversos temas culturais, literários, sociais…
Numa das últimas tertúlias fiz uma sondagem espontânea, e constatei que o maior número dos presentes, onde me incluo, fora mobilizado para a Guiné-Bissau, onde cumpriu uma difícil comissão militar.
Neste almoço aniversariante, olhando para muitos dos rostos que me rodeavam, para muitos milhares de portugueses que viveram os dramas e as consequências de uma guerra evitável, se os políticos bem instalados em Lisboa tivessem tomado as medidas adequadas. Não esperavam, com esta idade, depois de cinquenta anos, que vivêssemos na Europa uma nova guerra, assim como no Médio Oriente, com consequências catastróficas: destruições, milhares de mortos, mutilados, o que nos faz relembrar o nosso passado militar.
Também no dia 1 de Novembro as diversas sedes da Liga dos Combatentes prestam uma justa homenagem a todos aqueles que perderam a vida no Ultramar, como acontece todos os anos no Fundão e na Covilhã.
O Bispo de Setúbal na recente romagem ao cemitério de Nossa Senhora da Piedade, naquela cidade, acompanhado por diversos elementos da Liga dos Combatentes, declarou que «o Estado ainda não valorizou a missão dos Ex-Combatentes, tendo obrigação de o fazer».
Ainda somos mais de 300 mil ex-Combatentes que actuaram nos palcos da Guiné-Bissau. de Angola e de Moçambique, hoje estados independentes, mas sem a estabilidade política, militar e social assegurada. Os relatos que nos chegam do Norte de Moçambique não são animadores.
Segundo estudos, daqui a vinte anos os ex-Combatentes estarão reduzidos a zero e os poderes políticos já esfregam as mãos de satisfação, porque vão poupar uns euros.
Há dias a imprensa informava que nas Forças Armadas Portuguesas há neste momento dois chefes para um soldado, sinal de que as guerras acabaram em Portugal e que se vive em paz.
Veio-me à memória fazer uma reflexão: demorou quase cinquenta anos até a Assembleia da República aprovar o Estatuto do Antigo Combatente, depois de tantas reivindicações. É um Estatuto histórico, mas que acabou por não atender a determinados problemas.
Garante aos Antigos Combatentes um passe de transporte gratuito, com pouco significado, que só funciona nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, e nas restantes geografias do País só abrange um espaço de trinta e dois quilómetros, na distância da sua residência para o local do destino; isenção das taxas moderadoras, gratuidade na entrada de museus e monumentos nacionais, direito de preferência na habitação, que não existe, honras fúnebres, que não há meios para se concretizarem.
Em apoios sociais e na saúde o Estado é deficitário. No tocante aos ex-Combatentes com deficiências de guerra, não há responsabilidade governamental para dar próteses, cadeiras de rodas, muletas, medicamentos e apoios médicos, que ou não são prestados ou demoram uma eternidade.
Há ex-Combatentes a receber 36 euros (trinta e seis euros!) por ano, o que é uma esmola, sobretudo se tivermos em conta que há militares a precisar de apoio na saúde, em particular no tratamento do stress pós-traumático, síndrome que também afecta muitos familiares. Tenho conhecimento de diversos casos.
O grande problema é que a maioria das figuras políticas varre para debaixo do tapete a Guerra Colonial. É preocupante o silêncio sobre o passado recente da nossa história, que tem como consequência uma alienação dos reais problemas dos ex-Combatentes.
É urgente rever o Estatuto do Ex-Combatente antes que estes e seus familiares morram… já não faltam muitos anos para se fazer alguma justiça.
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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Março de 2012)
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