Elisa Ue, a cara da luta pela marrabenta – Cultura

Banda Kakana está em Lisboa para divulgar a música moçambicana.


A Banda Kakana, de Moçambique, esteve em Portugal para uma série de concertos. Depois de terem atuado no B.Leza e na Festa do Avante, o CM falou com os dois membros fundadores, Yolanda Chicane e Jimmy Gwaza, na noite em que atuaram no restaurante Malandro do Marquês, em Lisboa. Yolanda conheceu Jimmy quando o guitarrista fazia parte de uma banda de afro-jazz que atuava num restaurante.

“Eu pedi para cantar uma música, e ele gostou da minha voz. Foi assim que começou a nossa amizade”, lembra a cantora. “Convidou-me para fazer parte de um projeto antigo a que queria dar vida, chamado Atrevidos. Aceitei e começámos a ensaiar, e dos Atrevidos nasce a Banda Kakana, em 2004”, recorda Yolanda Chicane, ou Yolanda Kakana, como também é conhecida entre os seguidores da banda.

A estes dois elementos juntou-se mais um guitarrista, um baixista e um baterista, para tocar a música tradicional de moçambique, mas com referências ao rock e afro-jazz. Uma mistura que resulta num estilo muito apreciado pelos moçambicanos.

“No início, quando conheci a Yolanda, a ideia era dar vida a um projecto de música rock. Queria tocar rock porque percebi que a voz dela tinha potencial. Com o andar do tempo, fomos percebendo que o rock não seria a música certa para apostar, tendo em conta que em Moçambique temos vários estilos musicais que, de certa forma, precisávamos expor e levar para o mercado exterior. Entendemos que para singrarmos na área musical devíamos apostar numa música que nos identificasse. Optámos por fazer esta mistura do rock com outros ritmos moçambicanos”, informa Jimmy Gwaza.

Banda Kakana é a fusão dos ritmos tradicionais de Moçambique com sons mais modernos

Moçambique tem onze províncias, cada uma com vários ritmos, e por onde a Banda Kakana passou sentiu que as pessoas se manifestavam de forma culturalmente diferente. “Temos vários ritmos, mas os que se destacam são o Tufo, Marrabenta, Mapiko, Xingombela, Xisayizana e Muthimba. É por aí. Há muita coisa para explorar”, realça o guitarrista e compositor. “A Banda Kakana é a fusão destes ritmos, com sons mais modernos”, acrescenta a cantora. São várias as línguas de Moçambique em que cantam nas suas músicas, para além do inglês, português e francês.

A banda tem três discos gravados, o primeiro foi “Serenata”, em 2013, depois “Juntos”, em 2017 e “Uma Nova Flor”, em 2022. “No princípio, ainda não estávamos bem certos do que queríamos. O álbum ‘Serenata’, em parte, é um pouco desta confusão de identidade que enfrentávamos. Temos lá vários ritmos, entre moçambicanos e estrangeiros. Podemos dizer que no primeiro disco ainda não nos tínhamos encontrado. No segundo, entramos mais na onda dos ritmos moçambicanos”, informa Jimmy Gwaza.

“Acontecem grandes shows, mas para bandas estrangeiras”

“Em Moçambique temos muitos shows, mas em casas de pasto. Encontra-se música ao vivo todos os fins de semana, em Maputo e Matola. Há agora um cenário novo, em que as casas de pasto estão fora da cidade, e é aí que tem havido mais música ao vivo. Nesse aspeto está tudo a correr bem, mas há aqui uma lacuna: nos grandes festivais, nos grandes palcos, onde temos uma plateia acima das mil e quinhentas pessoas, aí é que tem sido escasso”, alerta Jimmy. Para Yolanda, “Os grandes shows são um grande investimento, e os nossos produtores estão preocupados em faturar, naturalmente. Acontecem grandes shows, mas para bandas estrangeiras. Acabamos por ser os que abrem os concertos. Mas, em termos de música, Moçambique está a evoluir muito. É normal sair à noite para ouvir música ao vivo, o que não acontecia antes. Depois da pandemia esse movimento aumentou”.

Levar a música moçambicana ao topo do mundo, até onde conseguirem chegar, é o desafio da Banda Kakana e o seu propósito na música. “A nossa maneira de estar, a cultura moçambicana, mas principalmente mensagens que tenham a ver com paz e amor. A Banda Kakana, na verdade, é uma banda de mensagem de intervenção social. Queremos curar o mundo, como tentou fazer o Michael Jackson, e outros”, esclarece, alegre e confiante, Yolanda Chicane.

“É mais fácil sair para a Europa ou para a América do que para um país africano”

O último disco, “Uma Nova Flor”, contou com a participação de muitos artistas, tais como Tito Paris, Micas Cabral, Mingas, Wazimbo, Mr Kuka, Otis, Quim Alves. “Ainda não gravámos com muitos artistas internacionais, o que tem acontecido é que acabamos fazendo intercâmbios, sempre que vão a Moçambique músicos estrangeiros. Dessa forma aproveitamos para conhecer músicos de outros cantos do mundo”, refere a cantora moçambicana.

França, Canadá, Cabo Verde, Egito, África do Sul, são alguns dos países por onde já atuaram. “Uma coisa estranha e engraçada que acontece é que, para nós, é mais fácil sair para a Europa ou para a América do que para um país africano. Não entendo porque entre nós, africanos, não temos esta conexão. Contam-se as vezes que fomos a Angola, Guiné-Bissau, ou São Tomé e Príncipe. Temos que começar a pensar em como podemos fazer mais vezes estas visitas uns aos outros. Acho que isso nos podia ajudar a encontrar um caminho”, aponta Jimmy Gwaza.

“Toda a gente conhece, todo o mundo dança [Elisa Ue]”

A banda tem por objetivo voltar mais vezes a Portugal, principalmente no verão, para aproveitar os festivais. “A Banda Kakana viaja muito, mas é sempre um assunto do governo. Vamos representar o País. Mas agora também queremos fazer os festivais na Europa”, ambiciona Yolanda Chicane, numa fase em que a banda está muito bem rodada, como demonstrou no concerto do Malandro do Marquês. Um dos temas interpretados foi Elisa.

“É uma adaptação de um tema popular moçambicano, Elisa We (Gomara Saia). Um tema emblemático de Moçambique. Toda a gente conhece, todo o mundo dança. Então pegámos nessa música e demos uma nova roupagem. Tem muito valor para nós. Porque é, de certa forma, a música que escolhemos para dar cara a esta luta pela divulgação da marrabenta”, informa Jimmy. “Nesta música valorizamos um bairro de Maputo, chamado Mafalala, um bairro cultural, onde nasceram muitas estrelas do futebol, como o Eusébio, e da música também. Aproveitámos para fazer uma homenagem a este bairro”, remata Yolanda Kakana.

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