Segundo os dados do Censo de 2021 existem mais de 10 mil guineenses a residir em Cabo Verde. Desde 2018 que Fatumata Jacira Bomba Candé, mais conhecida por Jacira, atualmente com 39 anos, faz parte desta estatística.
Conta em entrevista ao Balai que chegou a Cabo Verde em 2018 por influência de uma amiga que vivia em Cabo Verde e que a convenceu que poderia ser bem-sucedida na área da costura em Cabo Verde onde conseguiria um salário melhor do que como enfermeira em Bissau. “A minha amiga convidou-me para vir a Cabo Verde e tentar recomeçar a minha vida, eu tinha acabado de perder a minha mãe e não havia, mais nada que me prendesse na Guiné-Bissau”.
Jacira relata que na época estava a trabalhar como enfermeira no hospital central da Guiné-Bissau, mas muito insatisfeita com o salário, já que o que ganhava corresponde a 30 mil escudos cabo-verdiano, em 2018 resolveu mudar-se para Cabo Verde juntamente com a filha não para ficar definidamente, mas para fazer uma experiência e pediu três meses de férias. “Na Guiné-Bissau eu comecei a dar aulas em 2010 quando terminei o meu ensino médio. Logo que conclui a minha licenciatura comecei a trabalhar como enfermeira, mas tinha outro dom que era a costura algo que encontrei em casa porque a minha mãe costurava bem e ganhava com isso.”
Também ganhou experiência em diferentes alfaiatarias. “Antes de começar a dar aulas eu trabalhava para poder ter o meu dinheiro, na época a única coisa que sabia fazer bem era a costura então procurava os alfaiates e pedia para trabalhar com eles e foi assim que aprendi muito passei a costurar mais do que a minha mãe até.”
Ao chegar em Cabo Verde em 2018 Jacira conta que começou a costurar juntamente com o irmão, que já residia no arquipélago e que na época fazia sandálias.
Em 2019 foi para ilha do Sal onde fazia refeições para vender, mas com a pandemia o negócio foi por água abaixo visto que os lugares onde costumava vender fecharam e Jacira regressou à Praia em busca de um novo trabalho . Acabou por passar por diversos locais: trabalhou numa loja, depois como empregada doméstica, entre outros.
Até que um certo dia Jacira diz que a sorte lhe bateu a porta onde foi chamada para fazer um estágio como enfermeira no Hospital Agostinho Neto, HAN. “Naquele dia o sol voltou a brilhar pra mim porque o meu sonho é fazer aquilo que gosto e a enfermagem é uma paixão muito antiga”.
Jacira conta que logo que terminou o estágio esperou ter um trabalho definitivo, mas relata que não foi possível porque na época não tinha residência. “Disseram que não podiam contratar uma estrangeira sem residência”. Alguns meses depois, já tinha a sua residência e foi chamada para trabalhar juntamente com a equipa médica na vacinação durante a pandemia da Covid-19.
Após terminar a campanha de vacinação, Jacira conta que voltou a ficar desempregada e foi trabalhar num restaurante mas não teve sucesso e resolveu voltar a costurar. “Depois de muitos fracassos resolvi trabalhar por conta própria e no dia quatro de setembro de 2023 comecei a costurar de novo.”
Entretanto Jacira conta que foi chamada para trabalhar só que desta vez na Sucupira, mas não deu certo. “O costureiro propôs que dividíssemos o lucro de tudo que fazíamos, mas ele não sabia fazer tudo então a maior parte do trabalho era eu quem fazia por isso resolvi abandonar a sociedade e trabalhar sozinha.”
Inicialmente Jacira disse que começou a fazer as peças de vestuário com tecidos enviados da Guiné-Bissau por uma prima, após os tecidos terminarem passou a comprar localmente.
Atualmente, Jacira que mora na cidade da Praia, no bairro de Jamaica, faz os trabalhos de costura no Paiol em casa de uma amiga. “Só costuro roupas por encomenda (…)as pessoas podem comprar os tecidos e trazer ou eu mesma compro e, consequentemente, a roupa sai por um preço mais caro.”
Depois de cinco anos em Cabo Verde, Jacira confessa que o futuro pode passar pela emigração novamente, desta vez para um país europeu.
Leinira Furtado/ Estagiária
Crédito: Link de origem



Comentários estão fechados.