Facada Records. Que gente irrequieta é esta? E que música têm para nos mostrar? – Observador

As maiúsculas enfatizam a urgência do decreto — PROIBIÇÃO DE APROXIMAÇÃO ATIVA A GRUPOS DE ORCAS POR EMBARCAÇÕES MARÍTIMO-TURÍSTICAS. No início da semana, o Instituto de Conservação da Natureza e das Floresta proclamou estado de sítio em alto mar; não é caso para menos: um grupo de orcas afundou um veleiro no Estreito de Gibraltar. As explicações para esta ataque diferem. É uma reação ao trauma infligido pelas embarcações; é por causa do barulho; é uma brincadeira; ou claro, é o início de uma guerra de classes marítima. Enquanto prosseguimos expectantes em doca seca, baixem os arpões, uma orca vem em paz e traz-nos canções de amor.

“Um amigo reparou que as últimas letras de Leonor e as primeiras de Cabrita fazem ‘Orca’”. É a explicação singela de Leonor Cabrita, uma lisboeta que se recolheu na pandemia, compôs uma série de cantigas e autointitulou-se de Orca. Esta predadora está cabisbaixa, é dada à introspeção, no piano ou no sintetizador, acompanhada por um saxofone chorado, um contrabaixo a pulsar entre lágrimas e uma dose saudável de melancolia espirituosa — “Não posso passar a noite a chorar/ amanhã tenho que fazer/ tenho que ir trabalhar”. Paisagem Trânsito é a estreia de Orca e deu à costa como um dos melhores álbuns nacionais de 2023.

Os responsáveis pelo disco de estreia de Orca são a Facada Records, uma editora independente recém-fundada pelo saxofonista Yaw Tembe, que promete agitar as águas da música portuguesa — se necessário, afundar veleiros pelo caminho. “No papel sou português, mas para mim a pátria é algo abstrato, estou sempre a desconstruir as noções de nacionalismo. Há sempre um confronto com ideias de nacionalidades, bandeiras e estado”, revela o músico nascido na Suazilândia, de mãe sul-africana e pai moçambicano. No final do ano passado, Yaw Tembe criou a Facada Records e editou DOBRA, o segundo álbum dos Gume, um coletivo de jazz com 14 músicos. “Existe um choque quando tenho que interagir com conceitos e ideias de nação. Mas para mim o mais interessante é criar novas comunidades”, resume o pirata desta comunidade apátrida, com uma manobra de desembarque em Alcobaça, Lisboa e Olhão: este sábado, às 19h, Orca e Yaw Tembe sobem ao palco do Cistermúsica — Festival de Música de Alcobaça; no domingo é a Orca na Casa Cheia, em Lisboa; de seguida, Paisagem Trânsito é apresentado em Olhão, dia 29 de julho, na República 14.

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